Democracia e Universidade

Democracia e Universidade José Saramago




Resenhas - Democracia e Universidade


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regifreitas 09/05/2019

DEMOCRACIA E UNIVERSIDADE (2013), de José Saramago.

A obra é composta por duas conferências proferidas pelo Nobel de Literatura: a primeira, que dá título ao livro, na Universidade Complutense de Madrid, no ano de 2005; já a segunda, “Verdade e ilusão democrática”, foi lido em abril de 2003, em Santiago do Chile.

Em “Democracia e Universidade” chama atenção a distinção feita por Saramago entre “educação” e “instrução”. Para ele: instruir é transmitir conhecimentos acerca de distintas matérias que estão no programa; educar é dirigir, encaminhar, doutrinar (p.19). Nesse sentido, à escola e aos professores, por não ser sua missão educar, caberia apenas a tarefa de transmitir os conteúdos e conhecimentos úteis para o progresso técnico e científico da sociedade (p.20); educar seria tarefa da família e da sociedade. Já à universidade teria que chegar alunos instruídos e educados (p.26), e sendo o último momento formativo da pessoa, dela deveria sair cidadãos mais críticos e conscientes, e não apenas técnicos e especialistas com diplomas.

Na segunda conferência, Saramago faz uma crítica à nossa atual democracia representativa. Ao mesmo tempo em que o voto simboliza a vontade do eleitor, também representa a abdicação deste ao efetivo e permanente exercício político que também lhe é de responsabilidade. Para Saramago, atualmente o sistema político predominante no mundo não é a democracia, mas a plutocracia – manda o poder do dinheiro. Assim, torna-se cada vez mais necessária a discussão sobre e a reinvenção dos rumos da democracia.

Gostei mais da segunda conferência, principalmente por ela dialogar muito com a atual crise da democracia vivida em caráter mundial. Em relação ao primeiro texto, Saramago peca pela visão conteudística atribuída à escola. Mesmo com a enorme carga absorvida por essa instituição atualmente, é papel dela, sim, a formação de jovens com uma maior criticidade frente aos problemas do mundo extraclasse, muito embora a obtusidade e má-fé dos atuais governantes advoguem o contrário.
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Toni 12/11/2019

Este livrinho traz duas conferências proferidas por Saramago. A primeira, “Democracia e universidade”, aconteceu em 2005 na Universidade Complutense de Madrid e é, de fato, um texto inédito do autor aqui no Brasil. A segunda, “Verdade e ilusão democrática”, foi lida em dois momentos: em 1998, numa conferência organizada pela Cátedra Júlio Cortázar, na Universidade de Guadalajara, México; e em 2003, por ocasião das Conferências de La Moneda em Santiago do Chile. Hoje, este segundo texto pode ser encontrado também no Último caderno de Lanzarote: o diário do ano do Nobel.
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Não será novidade pra quem já leu os romances do autor, ou conhece algumas de suas declarações, a condenação tácita que Saramago faz do mercado financeiro, “o poder autêntico [...] no qual não se vota, que está num lugar não assinalado, a pressionar, a exigir, a mandar”. Para ele, nossa (iludida) noção de democracia está o tempo todo sendo contestada pelas injustiças sociais e pelos caminhos exploratórios (de recursos naturais e pessoas) reproduzidos por governos que deveriam ser, etimológica ou gregamente falando, do povo e para o povo. Basta ver, e reparar. Saramago propõe, portanto, a “aprendizagem da cidadania” e o abandono das utopias como percurso para a criação do cidadão bom, tomado aqui não apenas como o cumpridor de leis, mas sobretudo como alguém que “tem espírito crítico, que não se resigna, que não aceita que as coisas sejam assim, ou assim sejam vistas apenas porque alguém decidiu”.
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Há muitas críticas que podemos fazer à proposta de Saramago de se desenvolver mais profundamente a cidadania no nível universitário. A mais evidente delas é a inexistência de qualquer relação entre o aperfeiçoamento intelectual e o desenvolvimento de um olhar genuinamente preocupado com o outro e seus direitos. Saramago, no entanto, não fala para dar respostas, mas para levantar a dúvida, a instabilidade, e desassossegar o ideal de democracia ao qual vivemos agarrados mas que só funciona para benefício de uma minoria.
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