R...... 28/09/2016
A obra apresenta três textos de Júlio Verne. Os dois primeiros são contos escritos em sua juventude (com abordagem de personagens marginalizados) e o terceiro é o início de um romance que o autor deixou inacabado (considerado o último texto antes do falecimento em 1905).
"San Carlos" mostra um bando de contrabandistas de tabaco, liderados pelo capitão San Carlos, fugindo de um grupo de guardas. A perseguição é acirrada, contando com um guarda infiltrado no bando como um desconhecido montanhês, escalada de despenhadeiro, travessia de um lago e esconderijo em uma cachoeira. Foi escrito na juventude do autor e este já dava sinais da engenhosidade que o marcaria, descrevendo uma inusitada fuga dos contrabandistas através do lago. A história é simples, sem grandes desdobramentos ou aprofundamento, privilegiando o clima de aventura romanesca típica do autor.
"Pierre-Jean" tem ênfase humanista e é um tanto melodramático, sobre a libertação de um prisioneiro das galeras francesas. Acredito que existiam muitos excessos e injustiças nisso e o olhar do leitor é atraído para essa realidade. O foco é a marginalização sofrida. Lembra um pouco a história de Jean Valjean (protagonista de "Os Miseráveis", de Victor Hugo), mas o texto de Verne antecedeu o do amigo Victor Hugo em pelo menos uns dez anos. A semelhança é limitada ao rigor da condenação na galera a um jovem francês sem grandes contravenções.
"Viagem de estudos" é o texto inicial de um romance inacabado. A trama se passa na África, quando um grupo de diplomatas franceses (liderados por um senador e deputado) vão a uma colônia da França para decidir os rumos da eleição de lá. O autor, no trajeto, descreve o cenário natural e algumas populações nativas. O governador da região não é favorável que essas comunidades nativas tenham direito de voto e a história fica por aí.
Acredito que prometia embates com um olhar humanista a esses povos em seu direitos. Será que o autor pretendia trazer uma mensagem contra o colonialismo? O final é abrupto e quem lê talvez não goste (meu caso), por estar incompleto e sem direcionamento em uma mensagem (o que é perfeitamente compreensível). A publicação do texto, acredito, ressalta-se como uma homenagem a mais ao autor.