Tatiane 07/11/2019
Livro com tema atualíssimo, mexe com quem o lê.
Conheci Ana Paula Maia em outubro, quando li "Assim na terra como embaixo da terra". Devastada com o tema, porém encantada com a escrita forte e precisa, resolvi procurar outros livros da autora. Encontrei "De gados e homens" na livraria e comprei. Li-o também quase sem parar.
A primeira impressão é de tirar o chão. Não há como negar o que Maia afirma: "todos são matadores, cada um de uma espécie, executando sua função na linha de abate" (p. 45)
Isso se mostra na morte do gado para alimentar os homens - de qualquer origem, de qualquer princípio religioso - ou na morte de homens que são facilmente substituídos por outros porque "assim como o gado assemelha-se entre si, sendo difícil a distinção entre eles, com os homens parece ocorrer o mesmo. A linha do tempo é como a linha da morte: não pode ser interrompida". (p. 95)
Ana Paula Maia consegue nos levar a uma reflexão profunda sobre o consumo de carne, mas não é panfletária de vegetarianismos ou veganismos. Ela, apenas, faz uma crítica contundente ao sofrimento dos animais, mas também mostra que os humanos, atores desse sofrimento, são, em sua maioria, meras peças descartáveis dessa grande máquina. (Isso me fez lembrar de um livro que li em 2017: "Mas não se matam cavalos?", de Horace McCoy. A temática é outra, mas o valor da vida e o uso que se faz do ser humano como se faz de animais encurralados se assemelham. Escrevi sobre ele em meu blog.)
Voltando à brasileiríssima Ana Paula Maia...
E, como havia lido o mais recente (de 2017) antes, fui surpreendida pela recuperação de uma personagem que, na verdade, vai trabalhar no abatedouro do livro escrito em 2013. Achei muito legal essa construção feita pela autora.
Vale muito a leitura! Ou melhor, as leituras!
MAIA, Ana Paula. De gados e homens. Rio de Janeiro: Record, 2013.
MAIA, Ana Paula. Assim na terra como embaixo da terra. Rio de Janeiro: Record, 2017.
tatiandoavida.com