Jaqueline 09/03/2011Ela: uma beleza celestial. Ele: uma sensibilidade tocante. “O Mundo de Vidro”, livro do autor paulista Maurício Gomyde, foi um dos romances que mais me agradaram nos últimos tempos. Trabalhado com humor inteligente e cheio de reviravoltas, este livro vai além da simples história "garoto encontra garota", nos fazendo rir, suspirar e se encantar desde seu prólogo até sua última página.
A história já se inicia com uma sacada genial: o nome do casal protagonista é simplemente “ele” e “ela”. Justamente por não serem substantivos próprios, cria-se a impressão de que a trama do livro poderia acontecer com qualquer pessoa – uma história de amor platônico genérica entre um par de pessoas que compartilham um mesmo vagão do metrô. Por obra do acaso, ou melhor, do empurra-empurra tão banal dos nossos transportes coletivos, "ele" acaba pegando um trem diferente do que estava acostumado, e é lá que “ele” enxerga “ela” pela primeira vez. Linda, compenetrada e com um ar culto mais do que atraente, sua imagem mexe com seu admirador atrapalhado e logo se torna uma obsessão. Professora de economic business e colunista de um jornal, noiva e alguns anos mais velha, "ela" parece pertencer a outro mundo. Como nosso narrador anuncia, ela ouvia Bjork e ele “sabia o nome de cinco Pokemóns”.
“Ele” vive sozinho com um papagaio (ou melhor, papagaia) que só fala “FELÁ DA PUTA” e recita Nelson Gonçalves após ouvir a fossa de seu apaixonado dono de vinte e poucos anos, jovem impressionável e cheio de bons sentimentos no peito. Louco por “ela”, “ele” passa a segui-la e acaba se matriculando no mesmo curso de economia em que a viu entrar, sem saber nem mesmo os mais básicos fundamentos da disciplina. A inocência dele é tocante e ao mesmo tempo hilária, pois na tentativa de agradar sua professora ele acaba mandando muitas bolas fora, exatamente como na nossa vida real. Sabe quando criamos uma paixonite por alguém inalcançável e ficamos buscando gostos e hábitos semelhantes? Isso também acontece no livro e propicia cenas hilárias, como “ele” indo a um restaurante de comida japonesa – coisa que odeia - com “ela”.
A história ganha camadas e mais camadas de profundidade quando ela passa a receber em seu e-mail os capítulos de um livro chamado “O Mundo de Vidro”, que narra com uma sensibilidade artística profunda e muito tocante a história de amor de um casal. As intenções apaixonadas do narrador, que é a metade masculina do casal, acabam por comover “ela” de um modo perturbador, trazendo-lhe dor e dúvida. É este mundo frágil e amoroso que acaba por envolver tanto a personagem como o leitor, tragando-o para dentro do livro, fazendo-o sentir cada parágrafo. Quando eu terminei o livro, carinhosamente autografado pelo Maurício para mim, estava com os olhos cheios de lágrimas e um sorriso bobo no rosto. Meu coração foi às alturas, e olhe que não sou facilmente impressionável! “O Mundo de Vidro” é um livro surpreendente, dono de um charme ímpar que encanta o leitor que se dispõe a embarcar em seu belíssimo carrossel de emoções. Leitura mais do que recomendada!
>> Resenha previamente postada no site www.up-brasil.com