Daniel 08/05/2013
Relendo e lendo a Bíblia percebo que ela é ao mesmo tempo um manual sobre como se deve ler e um manancial de símbolos que permeiam toda a literatura ocidental. Se você tem uma edição razoável dela, você, por exemplo, acaba lendo uma passagem - as seções dentro dos capítulos - bem devagar, consulta a nota da interpretação geral dessa passagem, volta a ler o texto, agora sob nova luz, retorna às notas - que agora analisam versículo por versículo, pelo menos os mais importantes - podendo voltar ao texto ou não - eu prefiro ler só duas vezes. Quer dizer, é uma leitura microscópica, detalhista, que privilegia a memória e análises reiteradas do que se está lendo, uma leitura ideal que normalmente a gente não aplica na prática.
Fora que faz você prestar atenção e levar sempre em consideração que o texto nunca é só aquilo que está no papel, possuindo diversos sentidos, abrindo novas dimensões, seja através dos símbolos e metáforas, seja através da intertextualidade, esta sempre presente - a Bíblia é um diálogo constante de textos, dos livros em que é dividida, com múltiplas vozes, sempre conversando entre si e ampliando o sentido do que se lê, como o é, afinal, toda a literatura.
Eu só não aconselharia ao leitor iniciante ler primeiro a Bíblia inteira porque isso poderia tirar o gosto da leitura do coitado, seja pela tarefa aparentemente árdua demais, seja pela obrigação que desestimula, mas que vale a pena separar um tempinho para ler devagar partes por partes de cabo a rabo, isso vale, porque ele vai poder usar esse método de leitura aos livros profanos e também vai conseguir perceber as inúmeras ressonâncias e reminiscências da Bíblia em quase tudo que ele ler no que diz respeito à literatura ocidental.