Ana Luiza 28/02/2014
O amor é mais forte que a morte?
É tempo de mudanças para Joe Gray. A garota com nome de menino que já se acostumou às reações de espanto quanto ao seu nome. A mãe conquistou um emprego com um bom salário que justificou a mudança repentina para a pequena e estranha cidade de Esperanza. Joe está feliz pela mãe, mas também por ela mesma. Um recomeço pode ser melhor do que ela esperava. Joe vai estudar em um internato perto de casa que, mesmo cheio de estudantes riquinhos e provavelmente muito chatos, já é uma experiência incrível. Mas a maior e melhor experiência que a garota terá em um sua vida começaria no cemitério perto de sua casa.
“Ninguém jamais poderia tirar isso de mim. Nenhuma mentira seria capaz de estragar o que havia acontecido entre nós agora. Eu era dele e ele era meu.” Pág. 276
Em sua primeira caminhada no novo bairro, Joe esbarra com sua vizinha, a excêntrica Dona Violeta. A idosa pede o auxilio de Joe para carregar um enorme vaso que ela daria de presente para o marido que, logo a garota descobre, está morto. Dando a Dona Violeta privacidade para conversar com o túmulo do marido, Joe acaba se perdendo no cemitério. E aí que ela encontra um dos garotos mais bonitos que já viu, o educado Tristan. Joe nunca foi muito próxima dos garotos, mas sua amizade com este é instantânea e eles acabam se vendo todos os dias, no cemitério claro.
“Percebi que aquela era a segunda vez que ele dizia que me amava. Na primeira, ele havia partido o meu coração. E agora estava delirando.” Pág. 247
Tristan convida Joe para passar o ano-novo com ele no cemitério, o que aparentemente é uma tradição de muitos na cidade. A garota aceita, com esperanças de que os dois finalmente rompam as últimas barreiras entre eles e se beijem. Mas o encontro não vai nada como ela esperava. Ao encontrar Dona Violeta e uma amiga, Joe acaba descobrindo que Tristan escondera um “pequeno” fato sobre ele: o garoto está morto desde os anos cinquenta. Assustada com a revelação, Joe cai e bate a cabeça, o que deixa as coisas ainda mais complicadas. De alguma forma Joe realizou um feitiço exatamente na virada do ano que fez Tristan deixar o mundo dos mortos e aparecer bem vivinho (e nu!) no nosso mundo.
“- É melhor sentir dor e estar vivo do que não sentir nada – ele disse em voz baixa. – Estar morto é uma droga.” Pág. 52
Apesar de não saber exatamente como ou porque, Dona Violeta esclarece partes do acontecimento. Ela é uma bruxa, como a sua amiga e como, aparentemente, Joe. Agora que a garota trouxe Tristan de volta a vida, uma conexão mágica muito forte se estabelece entre os dois, o que demanda que eles fiquem sempre perto um do outro. Nem Joe nem Tristan parecem descontentes com isso, apesar de que o (quase) relacionamento romântico dos dois fica um pouco de lado diante de tantas novidades.
“Muito cuidado com o que você deseja... minha mãe costumava a dizer quando eu era pequena. Tristan desejara viver. Agora tinha que lidar com o fato de seu pedido ter se tornado realidade.” Pág. 63
Enquanto Tristan redescobre como é estar vivo e em um século completamente diferente do qual já tinha vivido, as dificuldades de Joe são quanto a se adaptar a esse novo membro da família. Sim, Tristan agora é um Gray, visto que a mãe da garota praticamente adotou-o como filho. E é com esse sobrenome que Tristan vai para a mesma escola de Joe, com a história de ser meio-irmão da garota. Mas a farsa não é tão fácil de ser mantida. Apesar do garoto se adaptar rapidamente (assim como Joe, mas ainda melhor) a nova escola, os sentimentos entre ele a garota não foram esquecidos e a atração entre eles definitivamente não diminuiu. Entretanto, uma dúvida paira no ar: a ligação e os sentimentos entre eles são genuínos ou apenas fruto do feitiço que os liga? Entre muitas confusões, risadas e novos laços de amizade, Tristan e Joe tentarão encontrar não só as repostas que buscam, mas também um pouco deles mesmos. Tanto para ele como para ela viver nunca foi tão bom, mas pode ser que a vida deles como é não dure por muito tempo.
“- Tristan. – Ele selecionou outra peça do quebra-cabeça em sua mente. – Tristan é um erro. Eu conserto erros, é isso o que faço. É isso o que sou. Eu espreito. Observo. Coloco as coisas em seus devidos lugares, em sua ordem natural. Preciso consertar isso.” Pág. 142
“Lost Boys - O Verdadeiro Amor Nunca Morre” é o primeiro livro da Trilogia “Lost Boys”. Tinha grandes expectativas para o livro que foram devidamente supridas. Confesso que não esperava algo tão juvenil, o que no final não foi um ponto tão negativo assim. O livro é extremamente adolescente, com grandes detalhes que não deixam de lembrar a saga “Crepúsculo”, o que lhe acaba conferindo um caráter despretensioso muito bom. A obra tem lá seus dramas, mas todos na medida certa e tratados sempre com grande otimismo pelos personagens. Eles reclamam e falam de desistir em alguns momentos, que felizmente são breves e apenas com a duração necessária.
A narrativa em primeira pessoa da autora é cativante, leve e muito divertida. A história segue um ritmo natural e viciante, li o livro em poucos dias. O início é um pouco lento e dá entender que o livro inteiro será só mais um romancezinho adolescente meloso. Mas de repente Tristan está morto apenas para ficar vivo de novo e “BAM!”, o leitor está completamente preso a trama. A história foi bem bolada e está recheada de surpresas, apesar de que muitas são bem previsíveis. Gostei dos caminhos que a autora seguiu, o final foi simplesmente perfeito, verdadeiramente inesperado e me deixou louca pelo próximo volume.
Todos os personagens têm personalidade própria e papel na trama, apesar de que são um pouco clichês. Joe é a típica heroína atual, que foge dos padrões femininos de beleza e comportamento, que veste roupas largas, não gosta de usar maquiagem, tem poucas amigas e é impulsiva. Eu gosto de personagens assim, mas elas se tornaram figurinha repetida nos últimos tempos. Uma garota, tanto na vida real como na ficção, pode muito bem ser feminista, independente e com opinião própria sem ter que se vestir como um garoto ou ser atrapalhada. Tristan é um príncipe modelo: bonito, educado, calmo e gentil. Entretanto, em alguns momentos a autora quebra os estereótipos antes mostrados - como por exemplo, quando Tristan e Joe falam palavrão e se comportam como adolescentes normais e não como personagens perfeitinhos de livros -, o que eu gostaria que ela tivesse feito mais vezes.
A edição em e-book do livro não deixa nada a desejar. Não gosto muito de ler livros digitais (é cansativo ficar tanto tempo sentada em frente ao computador), mas como a leitura de “Lost Boys” foi tão rápida, nem percebi que não estava lendo um livro físico (exceto quando achei as letras pequenas e aumentei a fonte, uma das poucas vantagens que o e-book tem sobre o livro impresso rs). A tradução está perfeita, não encontrei nenhum erro. Gostei muito que a capa original tenha sido mantida, ela é bonita e combina perfeitamente com a história. Também apreciei o fato da editora ter mantido o título de “Lost Boys”, que faz muito sentido dentro da trama e que perderia seu charme se tivesse sido adaptado para “Garotos Perdidos” ou qualquer outra coisa. Só acho o subtítulo “O Verdadeiro Amor Nunca Morre” um pouco forçado e meloso de mais, apesar de que ele também combina com a obra e que é uma tradução do subtítulo original. Outro detalhe que adorei foi os dois capítulos extras no final do livro que, honestamente, deveriam estar dentro da obra. Ambos são muito legais e só acrescentariam à trama.
Apesar de seus clichês e obviedades, “Lost Boys” é um livro tão divertido que se torna viciante e irresistível. Uma obra para descansar a cabeça, dar boas risadas e suspirar, que recomendo para os que gostam de um bom romance sobrenatural adolescente. Mal posso esperar pelos próximos volumes da Trilogia, assim como mais obras da autora.
“Nosso elo havia sido rompido. Eu podia senti-lo se dissolver dentro de mim. Eu não era mais a guardiã de Tristan. Não podia mais protegê-lo. Não havia mais nada que eu pudesse fazer além de observar enquanto ele ia embora.” Pág. 382
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