Vicente Tavares 15/05/2023Livro Devorado, Livro Degustado.Quando Harry Potter e o Cálice de Fogo foi publicado pela primeira vez no Brasil eu me lembro que o comprei na primeira semana, assim que as filas nas portas das livrarias acabaram. E um fato que me lembro bem foi que eu simplesmente devorei o livro. Li cerca de 400 páginas (de 584) de uma sentada, num ônibus que tinha fama de fazer turismo pelo trânsito de São Paulo, de tão demorado que era. É claro que a empolgação era enorme, terminei o livro no dia seguinte e tinha certeza de que voltaria a ele em algum outro momento.
Levou anos até eu voltar para fazer essa releitura, e o fiz junto com minha filha. E ao longo da leitura percebi ela se encantar e se empolgar, surpreender-se e até ficar chocada com os terríveis eventos dos capítulos finais. Mas também percebi minha própria ansiedade se manifestar. Querer continuar a leitura, quando ela queria parar. Terminar até data X, ou ler mais um pouco, mesmo quando o cansaço já cobra seu preço.
Foi só então que eu notei, na pele a diferença de um livro devorado para um livro degustado. São sabores diferentes e que atendem necessidades diferentes. Quem está faminto pode devorar sem culpa, mas balanceie suas "refeições", digo, leituras, para que esteja sempre bem alimentado e que cada novo livro seja uma experiência para degustar, sem pressa, pelo puro prazer de se deleitar com uma frase bem escrita, uma palavra bem encaixada, um paragrafo perfeito e uma história incrível.
Farei isso nas minhas próximas leituras, tentarei degustar mais que devorar a começar com um autor brasileiro, baiano, consagrado e que eu li de modo tão desastrado pela obrigação do trabalho escolar que peguei uma certa aversão que espero desfazer por completo em breve.