Vitória 31/01/2022
Peculiar
Esse livro é, no mínimo, peculiar. Apesar de elementos comuns, não se parece com nada do que já li de literatura brasileira. É um livro com bastante movimento, principalmente do meio para o final, com foco nas classes mais baixas do Rio de Janeiro durante o Segundo Reinado e que apresenta não um herói ou vilão, mas uma figura que mais se parece com um anti-herói, não apresentando idealismos. Há também um tom cômico que deixa a leitura mais leve, além da linguagem que, ressalvadas as expressões da época, não apresentam muita dificuldade de entendimento. Superado o começo arrastado, foi uma boa leitura.
~ Citações favoritas ~
Quando se atacou a lua, a sua admiração foi tão grande que, querendo firmar-se nos ombros de Leonardo, deu-lhe quase um abraço pelas costas. O Leonardo estremeceu por dentro, e pediu ao céu que a lua fosse eterna; virando o rosto, viu sobre seus ombros aquela cabeça de menina iluminada pelo clarão pálido do misto que ardia, e ficou também por sua vez extasiado; pareceu-lhe então o rosto mais lindo que jamais vira, e admirou-se profundamente de que tivesse podido alguma vez rir-se dela e achá-la feia. (Pos. 1329)
Chegara ao Leonardo a hora de pagar o tributo de que ninguém escapa neste mundo, ainda que para alguns seja ele fácil e leve, e para outros pesado e custoso: o rapaz amava. (Pos. 1337)
Mas em amor, assim como em tudo, a primeira saída é o mais difícil. (Pos. 1434)
Quando temos apenas 18 a 20 anos sobre os ombros, o que é um peso ainda muito leve, desprezamos o passado, rimo-nos do presente, e entregamo-nos descuidados a essa confiança cega no dia de amanhã, que é o melhor apanágio da mocidade. (Pos. 1859)
Não há nada que mais sirva para fazer nascer e firmar a amizade, e mesmo a intimidade, do que seja o riso e as lágrimas: aqueles que se riram, e principalmente aqueles que uma vez choraram juntos, têm muita facilidade em fazerem-se amigos. (Pos. 2093)
É sempre assim que sucede: quereis que nos liguemos estreitamente a uma coisa? Fazei-nos sofrer por ela. (Pos. 2111)
Dizem todos, e os poetas juram e trejuram, que o verdadeiro amor é o primeiro; temos estudado a matéria, e acreditamos hoje que não há que fiar em poetas: chegamos por nossas investigações à conclusão de que o verdadeiro amor, ou são todos ou é um só, e neste caso não é o primeiro, é o último. O último é que é o verdadeiro, porque é o único que não muda. (Pos. 2717)