Naiana 14/02/2022
Caricatura da sociedade brasileira nos tempos de D. João VI
Uma releitura saborosa e divertida, esta foi a segunda impressão que tive quando surgiu a oportunidade de reencontrar Leonardo e suas venturas e desventuras, li o livro pela primeira vez no ensino médio, leitura de escola e me lembrava apenas que não tinha desgostado do livro, mas a narrativa em si me escapou da memória, mas a classificação permanece a mesma classificação, um livro muito bom e hoje acrescento que muito divertido de ler também.
Mas não vou mentir que o início teve um pouco e dificuldade de pegar no tranco, Leonardo Pataca e Maria não são os melhores personagens da trama, mas o padrinho/compadre é cativante, a madrinha/comadre as poucos te enreda também, principalmente com suas tretas para favorecer o afilhado e crescer com o Leonardo passando pelas suas travessuras, aos namoros, vida mansa e perrengues é gostoso demais. A linguagem usada por Manuel Aloísio Azevedo é bem gostosa também, popular, e mesmo um tanto arcaica em alguns momentos (dada a época em que foi escrita), não é de difícil leitura. Escrita de forma novelesca, já que era publicado em folhetins semanalmente, e nas memórias de Leonardo, muitas vezes seguimos àqueles que o acompanham em um capítulo ou outro, sabendo de suas histórias e como elas acabaram por influir na vida do menino.
Leonardo não é um mocinho tradicional dos livros de época nacionais, muito menos do período do romantismo, na qual foi escrito, ele é gente como a gente, erra, acerta, volta a errar, e apesar de não ter uma índole das mais fáceis, sempre tendo seus rompantes e acessos, é uma boa pessoa, de bom coração, que foi abandonado pela mais e renegado pelo pai, situações que criam marcas, o padrinho apesar de sempre lhe dar muito amor, era excessivamente cego às travessuras do sobrinho passando-lhe a mão pela cabeça, o que poderia ter dado muito errado, mas o amor que lhe tinha também deixou suas marcas e tornaram o Leonardo uma boa pessoa. Como o narrador e demais personagens cansam a dizer, o menino nasceu sob má sina coitado, sempre caindo em desventuras, mas ao mesmo tempo sempre tendo quem olhasse por ele, pois sabia cativar os corações a que tocava.
Um dos pontos que mais me cativaram a história é a descrição de hábitos e costumes da época, os cenários, e o narrador o torna mais reais ao dizer sempre que assim o eram naquela época em que o Leonardo crescia e hoje muito já se perdera ou se desvirtuara, é maravilhoso ver como os cenários mudaram em meio aos anos e épocas, tanto as descritas pelo exto quanto a que estamos vivendo hoje em dia, adoro textos que me transportam a uma época ou lugar, e Manuel soube fazer isso.
Enfim, essa edição da editora Ática sempre traz um resumo da vida e obra do autor, que mais uma vez me fez amar conhecer mais da pessoa por traz da obra, triste pensar que Manuel, assim como Leonardo, teve uma "má sina", morreu jovem, no naufrágio de uma navio indo fazer uma cobertura jornalística, e só teve seu trabalho reconhecido muitos anos após seu falecimento quando Mário de Andrade resolveu escrever o prefácio de uma nova edição de Memórias de um Sargento de Milícias. E pensar que ele conviveu e trabalhou com tantos nomes conhecidos e reconhecidos, como José de Alencar e foi um dos que primeiro reconheceu Machado de Assis como um futuro escritor de muito talento, mal sabia que reconhecia ali um dos maiores nomes da literatura brasileira.
Estou cada vez amis apaixonada pela literatura brasileira e romances como este fazem com que minha admiração pelos autores nacionais cresça cada vez mais.