Marc 13/11/2013
Falar sobre histórias em quadrinhos sempre parece suspeito. Muita gente ainda não se convenceu que podem ser mais do que um passatempo. Inclusive, até mesmo pessoas que gostam de quadrinhos se deixam cair nessa armadilha, dizendo que querem apenas uma leitura leve, sem profundidade. Ainda mais se for uma história do Capitão América, um personagem que vai cada vez mais sendo entendido como símbolo do imperialismo e do modo de vida americano. Só de ver as cores de seu uniforme e a letra “A” na testa, tem gente que passa mal.
Mas o caso aqui é que temos um escritor habilidoso e plenamente consciente que tem um personagem odiado por todos que não são americanos. Certo, ele escreve para o mercado americano e nem deveria se importar com isso. Mas até entre americanos, o Capitão deixou de interessar.
Então aparece uma história como essa. Conduzida com habilidade e sem ofender a inteligência do leitor. E fico pensando: por que esse antiamericanismo tão acentuado? Será que eles precisam de uma história em quadrinhos para convencer o mundo de que são legais? Se for assim, óbvio que estão cometendo um erro grotesco. O efeito tem sido justamente o contrário. Está na moda ser antiamericano. Todo mundo que quer parecer inteligente hoje em dia tem a lição na ponta da língua: são uns imperialistas, criticam terroristas e fazem igual, invadindo países para garantir seus interesses econômicos, doutrinam o mundo através do cinema, da indústria cultural, etc. E essa história é tão simples, os valores que ela menciona são tão universais, como pode ser que a gente não perceba isso?
O fato é que Ed Brubaker sabe o que faz. Como a origem do personagem remete à Segunda Guerra Mundial, por mais absurdo que possa parecer, vai pontuando com flashbacks de batalhas que participou. O mais importante é que os vilões também lutavam naquele momento, o que dá um embasamento para os conflitos atuais. As ilustrações são realistas e combinam bem com a descrição das batalhas. E mesmo não sendo a história mais original de todos os tempos, não ofende o leitor com bobagens ou piadinhas. O Capitão América parece carregar o mundo nos ombros, e sente o peso, mesmo sendo um herói fabricado para ser invencível. Seu idealismo, e isso me parece o que sustenta o personagem e foi magistralmente aplicado aqui, sofre um choque com a mudança (ele adormece no ano de 1945 e acorda décadas depois, num mundo que não reconhece), mas logo consegue se conduzir e descobre que os tempos mudaram, mas os valores pelos quais lutou ainda devem ser conservados.
Para mim, uma leitura muito boa. Se deixarmos o ranço ideológico de lado e quisermos acompanhar uma história bem escrita, que resgata o passado ao mesmo que mostra a atualidade e renovação do personagem, vale muito a pena.