A Segunda Guerra Fria

A Segunda Guerra Fria Moniz Bandeira




Resenhas - A Segunda Guerra Fria


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Krisley 16/01/2018

O autor aborda o cenário geopolítico do oriente médio, destacando a forte intervenção dos Estados Unidos em outros países - praticando assassinatos, golpes, torturas, terrorismo, etc - e a disputa com Rússia e China por influência e poder. Os temas que recebem mais atenção são as políticas externas dos governos de George W. Bush e Obama, a Primavera Árabe e a questão de Israel, mas o texto é bem amplo, cobrindo diversos países e um grande intervalo temporal.

O livro é uma obra unilateral, muito bem documentada e embasada, com o objetivo de expor as ações ilegais e imorais dos Estados Unidos nas últimas décadas. Independentemente das supostas orientações políticas do autor, como vi pessoas mencionando, o livro é sóbrio e não apelativo, com um texto bem fluido e de leitura rápida.

A parte editorial deixou bastante a desejar: mapas sem título, legenda, escala ou orientação; fluxogramas jogados no texto também sem título ou legendas; palavras, frases e citações de várias linhas em inglês sem tradução (o que não só é um problema para quem não lê em inglês, como é irritante ficar lendo frases que começam em uma língua e terminam em outra).Além disso aparecem algumas poucas citações em italiano, francês e alemão também sem tradução.

A não padronização do sistema de medidas também me incomodou, ora usando o sistema internacional, ora usando o sistema imperial, assim como vários erros de digitação e alguns poucos nomes e datas trocadas.

Em algumas ocasiões ao longo do livro e principalmente no capítulo XXV, há repetição de fatos e dados estatísticos às vezes em parágrafos seguidos, apenas escritos com outras palavras, como se o autor tivesse feito duas versões do trecho e esquecido de apagar uma delas.

Há uma referência no texto sobre a carta enviada por Obama para o presidente Lula, pág. 505, “vide cópia integral no Apêndice”, mas não há a seção “Apêndice” no livro, apenas alguns documentos nos “Anexos”, mas nenhum deles é a carta citada.

Apesar dos problemas editoriais, o conteúdo vale a pena. Recomendo.
Albert 18/01/2018minha estante
Ótima resenha Krisley, resenha é elucidativa. Na sua opinião, embora tenha mencionado no segundo parágrafo, você achou a obra imparcial?


Krisley 18/01/2018minha estante
Albert, é difícil discutir imparcialidade, e considerando que não existe livro 100% imparcial, pode-se dizer que a obra é parcial no sentido de ter escolhidos certos temas e assuntos para expor os Estados Unidos, mas as discussões e apresentação de fatos estão dentro do padrão esperado de um livro sério.


Albert 18/01/2018minha estante
Grato pelo esclarecimento Krisley. Abraço.




Alex 03/11/2015

Primavera Árabe: democracia do caos e do terror. (pág. 537)
Neste calhamaço de 700 páginas, o professor Moniz Bandeira, sempre com farta referência, apresenta a Eurásia como principal tabuleiro geopolítico da atualidade, onde de um lado atuam Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, monarquias do Golfo e Israel, e do outro, Rússia, China e Irã.

O professor relata como, desde o início da guerra fria os Estados Unidos fomentaram o green belt islâmico, a fim de (i) conter a União Soviética na Eurásia, fornecendo dinheiro, logística e armamentos a grupos islâmicos radicais no Afeganistão, que posteriormente dariam origem Al Qaeda, no Cáucaso e nos países árabes sob influência soviética; (ii) manter ativo o seu complexo e fundamental industrial-militar doméstico, que necessita de um estado de guerra permanente, hoje materializado por uma ameaça assimétrica e irregular, que é o terrorismo.

O livro expõe também que, embora as revoltas árabes que eclodiam a partir de 2011 na Tunísia e no Egito surgiram por protestos até certo ponto espontâneos de jovens insatisfeitos com a situação econômica e política, na Líbia e na Síria a revolta armada foi arquitetada e financiada, principalmente por Estados Unidos, Arábia Saudita, Qatar, e Turquia (no caso da Síria), porém foi inclusa no pacote da Primavera Árabe, onde a imprensa corporativa, como ferramenta da OTAN em uma guerra psicológica (PSYOP), mostrou insurgentes fortemente armados e violentos como se fossem manifestantes pacíficos, bem como demonizou figuras como Muamar Gaddaffi, a fim de manipular a opinião pública.

Ainda, de acordo com o livro, o principal objetivo do ocidente em fomentar a destruição da Síria é (i) remover a presença russa nas cidades sírias de Tartus e Latakia, dominando todo o Mediterrâneo, locação que sempre foi de vital estratégia, até para os impérios mais antiquíssimos, como o romano; (ii) canalizar o gás da península arábica para a Europa; (iii) isolar o Irã do Hezbollah, ao sul do Líbano; (iv) aumentar a segurança de Israel no front norte.

Além disso, o livro aborda como a fundação do belicoso estado de Israel instabilizou toda a região até os dias de hoje, e que como a aliança dos Estados Unidos com a Arábia Saudita e sua tóxica ideologia wahabista, que pretende tornar a região em um califado sunita , e a destruição do Iraque e da Líbia abalou ainda mais a volátil região.

Em suma, esse livro é indispensável para aqueles que não se contentam com a análise superficial e tendenciosa da mídia ou das opiniões em geral, e pretende conhecer as causas que deram origem ao atual pandemônio que vai da Líbia ao Iraque e começa a afetar outros países e até mesmo a Europa, com a atual crise dos refugiados.

Obs.: a primeira edição do livro contém registros do Prof. Moniz até julho de 2013. Portanto desdobramentos mais recentes como a ascensão do Estado Islâmico do Iraque e Levante, a intervenção unilateral (mais uma) da coalização liderada pelos EUA na Síria, a crise dos refugiados, e a intervenção russa a pedido do governo sírio ficaram de fora. Mas ainda assim é impressionante a rapidez com que um livro desse porte foi lançado no mercado, de forma quase que concomitante aos próprios fatos abordados (infelizmente as repetições de parágrafos em algumas partes denunciam a rápida edição), coisa que só pouquíssimos mestres como o prof. Moniz Bandeira conseguem.
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João Moreno 20/09/2022

A presença militar dos EUA no mundo

O livro 'A Segunda Guerra Fria' é o desdobramento do trabalho anterior de Moniz Bandeira ('Formação do Império Americano'), escrito em 2013, enquanto a destruição da Líbia e da Síria estava a ocorrer. A obra é a contextualização desses fatos. Por "Segunda Guerra Fria", o historiador se refere aos desdobramentos que aconteceram no Leste Europeu, na África do Norte e no Oriente Médio, com a derrocada da União Soviética e o avanço dos EUA (mais a OTAN) sobre a região. "(...) as rebeliões nos países do Oriente Médio e da África do Norte, bem como nos Bálcãs — Iugoslávia, Kosovo, Bósnia, Croácia etc. — e nas repúblicas orientais da finada União Soviética, a partir dos anos 1990, configuraram, por assim dizer, um desdobramento histórico, uma segunda guerra fria (...)".

É possível dizer que o texto se divide em duas grandes partes. A primeira é a da contextualização - e, em minha opinião, de longe a mais interessante. Aprendemos, com Moniz Bandeira, que 1) "a Eurásia, região que vai da Europa à Ásia, é central nas disputas geopolíticas, onde 75% da população mundial vive e estão depositados 3/4 das reservas de petróleo até então conhecidas". 2) que o Oriente Médio é uma criação ocidental; o ressurgimento dos movimentos islâmicos aconteceu com o financiamento estadunidense direto, fundamentado nos interesses estratégicos do país, numa tentativa de conter a "ameaça vermelha", 3) que a "guerra ao terrorismo" e contra o "narcotráfico, a partir dos anos 1980 para o primeiro e com o fim da União Soviética para o segundo, serviu como justificativa para financiar o Complexo Industrial-Militar, motor da economia americana, criando mais 2 milhões (...) bem como a cadeia de bases militares e tropas nas mais diversas regiões do mundo.” (p. 40).

Ainda na "primeira parte", o cientista político brasileiro destaca o papel da "Primavera Árabe" no "teatro de guerra do Oriente Médio" e dá pistas sobre a sua origem. Se, como escrevi em outro lugar, "(...) as principais buscas pela internet a respeito da "Primavera Árabe" apontam que esses eventos, registrados a partir de 2010, no norte da África, trataram da luta contra tirania, "[d]a ideia de que era possível derrubar um ditador árabe com protestos pacíficos, (...) aproveitando o potencial da comunicação via internet e redes sociais", o estudo da geopolítica revela que "as revoltas da Primavera Árabe não foram nem espontâneas e ainda muito menos democráticas, mas que nelas tiveram papel fundamental os Estados Unidos, na promoção da agitação e da subversão, por meio do envio de armas e de pessoal, direta ou indiretamente, através do Qatar e da Arábia Saudita."

A Primavera Árabe esteve umbilicalmente ligada às chamadas "Revoluções Coloridas (Sérvia, de 1998 a 2000; Revolução Rosa, Geórgia, em 2003; Revolução Laranja, na Ucrânia, em 2004) como uma consequência da chamada Doutrina Bush, colocada em prática no primeiro governo de George W. Bush Filho, a partir de 2001. Usando como justificativa a "proteção" dos EUA, o projeto tinha como objetivo promover ataques preventivos a nações consideradas antidemocráticas.

Na prática, essa "agenda de liberdade", que buscava auxiliar países com “governos democráticos inexperientes” [Palestina, Líbano, Geórgia e Ucrânia] e dar voz aos "dissidentes" em “regimes repressivos” [Irã, Síria, Coreia do Norte e Venezuela] foi, na realidade, a forma encontrada pelos formuladores da política externa norte-americana de "modelar o comportamento de todas as nações de acordo com os interesses e a conveniência do Império".

O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, em prefácio à obra 'A Segunda Guerra Fria', descreve como pessoas foram treinadas para agir como "forças especiais para intervenção encoberta", misturando-se e se infiltrando às manifestações pacíficas. Tais ações seguiam as instruções do livro 'Da ditadura à democracia', do cientista político Gene Sharp, o qual teve a sua tradução e distribuição em 24 idiomas financiadas pela Agência Central de Inteligência norte-americana (CIA), e que se transformou em manual para desestabilizar governos. Nesse processo, que não foi espontâneo e contou com financiamento estrangeiro (ONGs, Think Tanks etc), as reações dos governos locais às manifestações abriram margem à intervenção externa em nome dos "Direitos Humanos".

Vale destacar o que apontou Samuel Pinheiro Guimarães em seu texto introdutório: apesar das revoltas em nome dos Direitos Humanos, os resultados, para além da destruição de Estados-nação e do tecido social desses países, foi o surgimento de "regimes fundamentalistas muçulmanos não dóceis a seus interesses [dos países que financiaram as mudanças de regime], em especial pelo seu firme objetivo de implantar regimes e sociedades teocráticas fundados na Shari’ah, na lei religiosa."

Na segunda parte, por sua vez, Moniz Bandeira trata com detalhes do processo de intervenção na Líbia, na Síria, e também aborda a questão de Israel e dos conflitos envolvendo a Palestina. Para o primeiro país, “Proteger civis” foi o discurso adotado pelas nações ocidentais para o invadir e legitimar “a doutrina de intervenção humanitária”. Obviamente, tratou-se de retórica, pois a invasão, coordenada pela OTAN, subordinada aos EUA, matou de 90 mil a 120 mil líbios e estrangeiros, além de destruir infraestruturas, casas, creches, hospitais e escolas. Tratou-se de interesses estratégicos, petróleo, mas também de contratos para as empresas dos países vinculados aos aliados dos países centrais do capitalismo. Como exemplo, é possível citar a Inglaterra, que gastou E$ 300 milhões nos conflitos, mas distribuiu contratos de 300 bilhões de euros. para empresas britânicas.

site: https://literatureseweb.wordpress.com/2022/09/20/a-presenca-militar-dos-eua-no-mundo-um-resumo-de-a-segunda-guerra-fria-de-moniz-bandeira/
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