Inácio 11/03/2023
Técnica apurada, um título genial e nada mais.
Comecemos pelas virtudes: Marçal Aquino domina e sabe manejar bem técnicas literárias, com flutuações da 1° para a 3° pessoa suaves, que dão sentido e tornam a narrativa fluida.
O título do livro talvez seja um dos melhores de nossa literatura, verdadeiro achado. Os títulos das partes nas quais o romance é dividido também não ficam atrás.
Mas...
Os personagens são artificiais, quase caricaturas. O protagonista/narrador me pareceu estruturado em cima da visão preconceituosa do homem branco, de classe média, culto em meio a selvagens ignorantes.
Também prejudicou o velho pacto entre leitor-autor-texto de ficção o lance do sujeito que se acha integrado há anos na vida da cidade, enfiado no submundo da prostituição, a ponto de acompanhar velórios e enterros, não saber nada sobre o matador mais requisitado do lugar.
A mocinha, quase clichê: mulher simples, com história de vida barra pesada, porém fatal, sedutora, misteriosa, a mais irresistível das fêmeas. E fácil. Sinceramente, uma cansada fantasia machista.
Por fim, o contexto: o texto tenta nos convencer que a história se passa numa cidade pequena da Amazônia em que os garimpeiros fazem o papel de proletários injustiçados. Quem conhece a Amazônia, sabe que a tal cidade fictícia está mais para cidade média do interior só sudeste. Não tem nada ver com o interior do Pará. Nem os garimpeiros são vítimas de poderosos