Ana Carolina Andrade 29/08/2024
Premissa e impressão impecáveis. Execução decepcionante.
A crônica de dois leitores que se encontram nas margens de um livro de biblioteca. O livro, O Navio de Teseu (o último livro do enigmático autor V.M. Straka), conta a história de um homem amnésico que é sequestrado para um navio e lançado em uma jornada perigosa. Straka era um autor e revolucionário misterioso, com inimigos poderosos e cuja identidade permanece um mistério mesmo décadas após sua morte. Os leitores, Jennifer e Eric, são estudantes universitários lidando com questões cruciais em suas vidas, enquanto tentam desvendar o mistério do livro e seu autor - e se manter a salvo daqueles que buscam impedir suas descobertas.
Quando fiquei sabendo desse livro, fiquei imediatamente intrigada. Contendo três histórias em uma (a de Jen e Eric; a das vida e identidade de Straka; e a do livro em si), "S." também conta com 22 anexos que complementam a história, e toda a publicação do livro é interessante - com a aparência de um livro antigo e as páginas supostamente amareladas com o tempo (afinal O Navio de Teseu "foi publicado" em 1949). Definitivamente foi a experiência de leitura mais diferente e interessante que eu já tive.
Infelizmente, a execução não faz jus à premissa e à impressão do livro. Enquanto de início é confuso acompanhar as três histórias, depois a gente pega o ritmo e as coisas fluem melhor. Porém, nenhuma das três narrativas têm desfechos satisfatórios, e o livro não responde quase nenhum mistério - nem do passado (quem era Straka? O que era o S.?), nem do presente (o que é o Novo S.? Por que ligam tanto para a pesquisa de dois estudantes?). A narrativa da Jen e do Eric foi a que mais me envolveu, e foi muito mais pelo relacionamento dos dois do que pelo mistério que eles tentam resolver. Com o tempo, me peguei mais interessada em chegar ao próximo anexo logo, do que em aproveitar a leitura pelo que era.
Há certo também acerca da maneira de ler. Alguns argumentam que o "certo" é ler O Navio de Teseu, e depois as anotações das margens. De início tentei fazer isso, mas o livro em si demora *muito* para engatar, e as anotações nas margens são uma distração bastante grande. Achei que ler tudo junto tornou a leitura bem mais dinâmica e envolvente, especialmente porque as anotações estão intrinsecamente ligadas ao livro "original". No fim, achei uma premissa genial, uma publicação física impecável, mas achei uma leitura anticlimática e não acho que recomendo, porque terminei frustrada e um pouco decepcionada.