Renan Barcelos 05/12/2020
Uma resenhícula
Quando você pega pra ler uma obra como Recado a Adolf, fica bem claro porque Ozamu Tezuka é considerado o deus do mangá.
Tezuka é mais conhecido por suas obras infantis, como Astro Boy e Kimba, então chega a ser estranho ver um desenho do mangaká envolvendo várias saudações nazistas. No entanto esse nem mesmo é o primeiro mangá adulto do autor, que no caso, seria Ayako, lançado pela Editora Veneta.
Se em Ayako o mangaká já explora temas adultos e violentos, ainda que com seu traço marcadamente mais simples, em Recado a Adolf, lançado mais de dez anos depois, ele mostra que está sempre em constante evolução e entrega uma obra definitiva dentro de seu estilo e sua proposta. No mangá de 72, dava para ver que Tezuka estava explorando ainda esse novo nicho (que ele escreveu justamente para mostrar que quadrinhos não são coisa infantil), enquanto que em Adolf, fica muito claro que ele dominou essa nova forma de narrativa.
O mangá, que mostra três protagonistas, um jornalista japonês investigando a morte do irmão nas mãos do partido nazista, um jovem chamado Adolf filho de um diplomata alemão e uma japonesa, e outro jovem chamado Adolf, filho de pais judeus, consegue trabalhar uma quantidade grande de conteúdos sensíveis e ainda assim entregar uma ótima história. Enquanto a trama de do jornalista Touge mostra um perfeito thriller de espionagem, bem alá uma criação de Robert Ludlum (criador de Jason Bourne), o lado dos garotos mostra uma trama de "coming of age", com as diferenças ideológicas e influência das respectivas culturas sempre tendo um papel importante no crescimento dos rapazes e em sua improvável amizade.
Embora estejam separados em boa parte da história, com Touge viajando em suas investigações e conflito com a S.S., um dos Adolfs indo estudar na escola de oficiais do Partido Nazista e o outro permanecendo em sua cidadezinha no Japão, uma série de documentos os une. Documentos que comprovariam a identidade de Adolf Hitler como descendentes de Judeus, material com poder de alterar os rumos da Guerra.
É uma história fenomenal. E se em Ayako às vezes o estilo da arte de Tezuka parecia destoar demais da trama, isso não acontece tanto em Recado a Adolf, que apesar de ser marcadamente os traços do autor, consegue ter muito mais sinergia com os acontecimentos.
É um mangá excelente, que mostra uma passagem de vários anos em meio ao início da segunda guerra mundial. E a edição do Pipoca e Nankin está muito legal.
Pra quem gosta de HQs, e, principalmente, de obras como Maus, Persépolis, e Gen Pés Descalços, é uma obra imperdível de um dos maiores autores de quadrinhos do Japão.
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site: https://www.youtube.com/watch?v=ozb4Pn0-zLc