Henrique Fendrich 20/09/2021
É uma daquelas obras em que você precisa realmente mergulhar na cabeça do personagem, porque todo o livro é constituído pela fala dele, não há um mísero diálogo no texto, apenas parágrafo atrás de parágrafo (e eles são realmente muito grandes). Se você consegue se identificar com o relato, a coisa flui naturalmente e pode ser muito agradável, mas, do contrário, terá muita dificuldade com a leitura. Infelizmente, a segunda opção foi o meu caso.
O livro tem qualquer coisa de "sonho", parece que a movimentação do personagem não obedece a um plano muito estruturado, mas que as coisas vão se sucedendo conforme o sabor do momento. Nesse sentido, há um tanto do que poderia ser chamado de surrealismo, a lembrar um pouco do nosso Campos de Carvalho, mas, a meu ver, sem o mesmo brilho.
Eu preferiria que o livro desse mais destaque à atuação do personagem durante a Segunda Guerra, quando, embora tcheco, aliou-se aos nazistas por causa da sua esposa alemã. Achei que ali havia um grande mote, mas ele é apenas um dos capítulos que perfazem o livro.
Este é o terceiro livro que leio do autor e foi o de que menos gostei. Nos outros, também há um estilo similar, possivelmente com mais diálogos, mas neles eu consegui realmente fazer o necessário mergulho na cabeça do personagem. Principalmente "Comboios rigorosamente vigiados", livro maravilhoso ao qual dei 5 estrelas e que não posso entender por que até hoje só foi editado em Portugal, sendo que é o original de um filme vencedor do Oscar.