Brito 05/02/2021
Sonetos de Florbela Espanca
A poesia de Florbela trata motivos muitas vezes tratados pelos poetas românticos: amor, perda, tristeza, mágoa, amargura, angústia, sonho, fugacidade da vida e da felicidade. Mas do modo conciso e transbordante como ele os tratou, mais ninguém o fez.
Florbela é autenticidade e intensidade. O corpo é um poço a arder em torno do qual ardem a poetisa eleita, o eu submisso, o eu que vive para servir o amor, o eu que ama quem quiser, este, aquele, o outro e toda a gente, o eu que se entrega de uma forma absoluta, o eu que teme ser rejeitado, o eu que teme a perda, o eu da culpa, o eu do desejo.
O corpo poético de Florbela é todo síntese e desmesura, poço de contradições em forma de soneto. É maravilhoso ver como tanta diversidade e vida desmedida cabem numa forma tão exigente, como se o soneto ganhasse asas para dentro e voasse muito para lá do céu no peito. A viagem faz-se dentro de si porque é dentro de si que tudo está, o céu e o inferno, a dor e os outros, as charnecas em flor, o mundo inteiro. Florbela é um pórtico para o infinito que parte sem sequer partir.