Vanessa Vieira 28/09/2014
Flor Negra_Kim Young-ha
O livro Flor Negra, do coreano Kim Young-ha - um dos maiores expoentes da literatura oriental -, nos traz um romance denso e ricamente detalhado, que narra a imigração coreana para o México. Com uma linguagem crua e intensa, conhecemos todo o sofrimento e desilusão desse povo, que alimentava a esperança de ser feliz neste "novo mundo" e que acabou se decepcionando cruelmente. Vislumbramos também uma história de amor quase que impossível, transpassada por inúmeros obstáculos e provações. É visível que o autor fez uma pesquisa minuciosa para tecer a narrativa, permeada de eventos e fatos históricos, retratando e de certa forma, até mesmo eternizando, esse episódio esquecido da história da humanidade.
Somos transportados ao mês de abril de 1905, quando 1033 coreanos - mesclados das mais diversas classes sociais e estilos de vida - embarcam para o México buscando uma vida melhor. Ao chegar naquela terra tão almejada, eles são escravizados e obrigados a trabalhar arduamente nas plantações de sisal, além de acabarem na linha de guerra da violenta Revolução Mexicana.
Baseado em fatos reais e retratando um capítulo praticamente esquecido da História, Flor Negra nos traz um romance épico arrebatador e vigoroso, com uma trama indelével e que ressoa ao redor do mundo, mostrando todo o separatismo entre o Ocidente e o Oriente. Em suas entrelinhas, acompanhamos também a saga de um amor impossível, a queda e a ascensão de vários impérios e sobretudo, os riscos que permeiam a busca pela liberdade. Narrado em terceira pessoa de forma concisa e crua, expondo toda a trajetória dos imigrantes coreanos pelo México, temos um retrato ricamente tecido deste período tão conturbado, importante e pouco recordado da humanidade.
Em 1904, com a eclosão da Guerra Russo-Japonesa, a Ásia foi partilhada pelas potências em ascensão, fazendo com o que o Império Coreano fosse anexado ao Japão. Perante a uma realidade amarga e triste promovida pela guerra, sem muitas propensões, os coreanos decidem embarcar rumo ao México, onde anseiam por uma vida melhor. Após uma exaustiva e longa viagem por alto-mar, onde desembarcam com a promessa de que terão o seu próprio pedaço de terra, eles acabam percebendo que o sonho na verdade se transformou em pesadelo.
Durante o percurso da viagem, Ijeong, um garoto órfão, se apaixona pela filha de uma nobre família, Yeonsu. Separados quando os proprietários rurais repartem os escravos entre si, ele jura que irá reencontrá-la. Após alguns anos, eclode a Guerra Mexicana, onde vários coreanos tem as suas vidas ceifadas. Alguns resolvem fugir com Ijeong para a Guatemala, onde constroem nos restos da civilização maia uma Nova Coreia. Em meio a sua jornada, vários fatos se sucedem, fazendo com que Ijeong fique cada vez mais distante de sua amada.
O romance presente na trama é arrebatador e intenso, mas não chega a se destacar tanto em vista da densidão da história. Ijeong e Yeonsu são protagonistas fortes e que tem as suas vidas esmigalhadas em virtude da guerra. O sofrimento incutido a eles, tanto físico quanto emocionalmente falando, é quase que palpável e chega a reverberar na alma, justamente por todo o senso de realidade que o cerca.
"Vamos nos ver de novo. O mundo não é nem de longe tão grande quanto você imagina."
Com um rico contexto histórico e retratado de uma forma tão intensa e crua, com todos os detalhes sórdidos e cruéis que regeram tal episódio, Flor Negra é um romance que mistura religião, raça, condição social, gênero e afins em seu interior e, acima de tudo, nos mostra o sonho utópico, e porventura, a situação caótica pela qual passaram os imigrantes coreanos. A capa é muito bonita e faz alusão ao título e, ao final do livro, temos uma nota do autor explicando a escolha de tal ilustração e nomenclatura. A diagramação está excelente, com fonte em bom tamanho, ilustrações de ramos e galhos no começo de cada capítulo e revisão impecável. Recomendo
site: http://www.newsnessa.com/2014/09/resenha-flor-negra-kim-young-ha.html