Coruja 08/10/2013Mais um livro da minha lista de “mestres da fantasia antes de Tolkien” e um volume para minha estante de “definitivamente NÃO queria ter lido na infância”.
Os Meninos Aquáticos é um livro poético. Em termos de linguagem, ele tem ritmo, musicalidade. Mas a mesma métrica que o transforma em poesia também o torna repetitivo e, por conseqüência, cansativo.
Kingsley era um reverendo anglicano em pela era vitoriana, o que significa, claro, que o livro é repleto de moralismos. Mas também está cheio de preconceitos e simplificações grosseiras – é irritante a forma como ele fala de americanos, irlandeses, escoceses (porque os ingleses, na opinião dele, são superiores em tudo às suas ‘colônias’) e judeus. Ou ainda o fato de que as ‘boas’ fadas da história levam um homem da ciência à loucura, por ele se recusar a acreditar nelas. E não esqueçamos de como o personagem principal começa morrendo afogado e passa por todo tipo de perigo para alcançar seu final feliz, enquanto a menina rica se transforma em fada/anjo simplesmente porque ser rica a faz automaticamente boa.
Em resumo? Kingsley escreve como Mr. Collins escreveria se Mr. Collins tivesse tempo para se dedicar à literatura infantil em vez de a sua patrona, Lady Catherine...
Basicamente, a história gira em torno de Tom, um jovem limpador de chaminés que é constantemente maltratado por seu mestre, Grimes. Tom sonha em crescer e ser como Grimes, maltratando outras crianças por seu turno – não necessariamente porque seja má criatura, mas porque não conhece nenhuma outra realidade.
Tom é acusado de roubo e foge antes que possa ser inocentado (embora seja razoável acreditar que o matariam na pancada antes que percebessem que ele não roubara nada). Exausto e delirante, ele se enfia no rio e se afoga.
Contudo, por obra e graça da rainha das fadas, ele não morre, mas se transforma em um bebê aquático... e a partir daí passa por uma série de aventuras, do riacho ao mar até terras surreais e inexplicáveis que se destinam ao seu crescimento.
Essas aventuras não necessariamente vão a algum lugar, servindo mais como longos sermões moralistas. Aqui e ali há algumas interessantes conjecturas sobre poluição das águas, mas de uma maneira geral o tom é de conto de fadas e discurso religioso.
No final, segui com a leitura mais como curiosidade histórica que pelo prazer de ler uma boa história. Os Meninos Aquáticos é um livro bem infantil, mas com seus preconceitos e presunções, eu não recomendaria para crianças de hoje. É um bom painel da sociedade da época, mas fora isso, não é um livro que eu recomendaria.
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