Ticiane.Melo 07/01/2020
Lifers
Jordan Kane tem 24 anos, e acaba de sair da cadeia, está em liberdade condicional. Ele trabalha para a Reverenda da cidade como "um faz tudo." A cidade toda o odeia por causa de um acidente que ocorreu há oito anos. Acidente esse que o faz se culpar e achar que ele merece tudo de ruim que acontece a ele.
Torrey Delaney acabou de chegar na cidade para morar com a mãe, a Reverenda. Ela é julgada e apontada por não ser uma mulher de "respeito". Por não corresponder o padrão tradicional da cidade. Ela é uma mocinha nada convencional; Não leva desaforo para casa, é irreverente, destemida, forte e boca suja. Nessa cidade pequena e pitoresca ela conhece Jordan e eles se tornam amigos instantâneamente. Porém acabam tendo que passar por cima do preconceito, da raiva e do abuso de moradores que não aceitam que a filha da Reverenda seja amiga do ex-presidiário. Na verdade, o motivo verdadeiro é que a cidade culpa Jordan por uma fatalidade que poderia ter acontecido com qualquer um. É uma cidade que prega sobre perdão e compaixão, mas é a primeira a condenar. Como se não fosse o bastante, Jordan tem que lidar com a amargura, o ódio e as humilhações que sofre por parte dos próprios pais.
Então quando algo brutal acontece fica a dúvida: ele finalmente se perdoará e seguirá em frente com seu grande amor ou a culpa destruirá o que ele lutou tão árdualmente para conquistar?
A história é narrada em primeira pessoa com os pontos de vista dos dois personagens. Dessa forma fica até mais fácil compreender o que ocorre ao redor. Torrey narra de uma forma divertida e espontânea. Ela não permite e não aceita que ninguém olhe feio para Jordan, ela o protege, cuida e é amiga dele sem nenhum julgamento. É uma menina mulher, pode ter todos os defeitos mas é leal e companheira. Enquanto que a parte do Jordan é mais tensa e sombria, pois a partir dele vemos o quão maltratado, julgado e condenado ele é por todos; Inclusive pelos pais. Mesmo que ele tenha cumprido a pena de oito anos, fica subtendido no decorrer da história que não foi suficiente. Para quase todos na cidade ele não merece perdão, não merece seguir em frente, e é de tanto ouvi isso que ele acaba acreditando, pois ele deixa a humilhação acontecer sem revidar. Confesso que meu coração sangrava a cada página! O ser humano consegue ser cruel!
"Quando olhei para o futuro que eu tinha, eu só vi cinquenta anos vazios caminhando através de cada longo e solitário dia cinzento."
Se pararmos para refletir, o que acontece com Jordan não é atual; acontece a todo instante e pode estar acontecendo agora. Quantos ex-presidiários como ele não tem uma segunda chance quando cumpri a pena? Quantos deles são condenados e excluídos da sociedade só por ter passado pela prisão? Nesse livro aprendemos que quando uma pessoa sai da cadeia, ela só quer recomeçar, segui em frente, ter um emprego, formar uma família, mas a questão é: eles não podem. O rótulo está ali se fazendo presente.
"Você sabe aquela frase: "O silêncio é insurdecedor?" Parece sem significado, certo? Mas a prisão nunca foi silenciosa; havia pessoas gritando, portas batendo e mil e um ruídos diferentes ecoando nas paredes. Mesmo à noite, você ouve as pessoas gemendo e chorando, todos os pesadelos dos crimes cometidos por dois mil detentos."
É uma leitura agradável, simples, comovente. Um livro doce e ao mesmo tempo intenso. Uma linguagem fluída.
Os personagens são muito bem construídos; até mesmo os secundários, como o casal amigo de Torrey, eles são pessoas de bom coração, amigos de verdade. Quando ela os apresentou ao jordan, eles não ficaram desconfortável, não o olharam feio. Eles simplesmente tiraram dúvidas, questionaram e seguiram em frente.
"Você acha que está em um caminho e de repente você percebe que pegou o caminho errado e fica se perguntando que porra aconteceu com sua vida. Acredite em mim, aconteceu comigo."
Sabe aquele livro que você ler e sabe que nunca vai esquecer? E caso aconteça, você vai reler só para ter o prazer de apreciar os pontos mais emocionantes e curti os personagens só mais um pouquinho? Esse é um dos livros que me fez pensar assim. Provavelmente, daqui há alguns anos estarei relendo. Por que livro bom e especial é aquele que te emociona, te arrepia, que te faz refletir e tirar lições. Eu chorei um rio de lágrimas, ri como nunca, xinguei loucamente e depois me arrependi de ter terminado de ler tão rápido, pois fiquei com aquela sensação de "E agora? O que faço da vida?" Fiquei com um ressaca literária de uma semana.
"Ela arrancou todas as minhas camadas de pele e derramou sua bondade e compaixão no meu corpo, me curando de dentro para fora ..."