Gabriela 16/01/2021
Tudo são flores para o otimismo, mas para Voltaire...
Com suas duras e filosóficas críticas ao otimismo, Voltaire escreveu 'Cândido' para desafiar e ridicularizar essa corrente filosófica e idealista cultivada pelo filósofo Leibniz.
Cândido é o personagem principal que com sua candura sempre suporta os infortúnios da vida de forma vigorosa e otimista, pois ele segue e acredita na filosofia de vida do personagem filósofo Pangloss, que sempre profere que "tudo acontece da melhor forma no melhor dos mundos." Certamente Voltaire estava representando Leibniz na figura de Plangloss.
Afinal, Leibniz seguia o tão famoso idealismo herdado de sua terra: Alemanha. E seguia o princípio da "razão suficiente", que acredita que tudo o que acontece, de forma boa ou má, acontece pois é assim que deve ser, isto é, tudo tem uma explicação possível e suficiente. Pautando essa ideia no idealismo religioso de um Deus bom, onipotente e onipresente que nunca falha em suas ações. Voltaire até cria um lugar onde tudo é perfeito: El Dourado, mas que nunca ninguém consegue chegar e se chegam, quando partem, não podem voltar, ou seja, inacessível. E que muito se assemelha com a Utopia de Thomas More.
Tudo isso era grandemente funesto para Voltaire, que foi um grande iluminista e influenciou posteriormente, com seus pensamentos políticos revolucionários (dentro de seus limites temporais), movimentos sociais como a Revolução Francesa. Voltaire não cultivava ideias pessimistas, mas sim realistas, que não tinham espaço para idealismos ou otimismos sem fundamentos materiais.
Dessa forma, ironiza o otimismo, que "é a obstinação de afirmar que tudo está bem quando tudo está mal", trazendo nessa obra personagens que sofrem variadas desgraças mas que insistem em acreditar no otimismo (o que torna a obra demasiadamente engraçada), mesmo em um mundo oportunista, injusto e infeliz, afinal, alguns filósofos como Leibniz não renunciam à suas teorias:
"Sou sempre da mesma opinião -respondeu Pangloss-, afinal, sou um filósofo, não convém que eu me contradiga, sendo que Leibniz não pode estar errado, e que a harmonia preestabelecida é a coisa mais bela do mundo, assim como a plenitude da matéria sutil."