Lucio 05/07/2011
Tese principal
Neste livro, MacArthur defende a tese de que a Igreja caiu nas armadilhas de um neognosticismo_caracterizado por variações de (a) teorias psicológicas humanistas; (b) pragmatismo e; (c) misticismos_ que mina a espiritualidade da mesma. A tendência é, seja na própria teoria (explicitamente) ou na prática (muitas vezes sem ver), a Igreja tem desacreditado dos recursos outorgado-nos por Cristo, declarados nas Escrituras para suprir nossas necessidades espirituais. Ela sugere então, um complemento ao cristianismo, na maioria dos casos, ao sabor do zeitgeist da época para poder suprir os recursos que, supostamente, a Bíblia não pode ajudar. Essa atitude é fruto do analfabetismo teológico que a Igreja tem vivido, e muitas vezes as próprias características desse neognosticismo tem corroído o conhecimento das Escrituras por parte da igreja, produzindo relativismos hermenêuticos e conciliações falaciosas entre teorias e Bíblia.
Minha Crítica.
As exposições bíblicas feitas por MacArthur, na maioria, podem ser feitas recorrendo à um Bíblia interlinear e um bom léxico.
No tocante ao misticismo, MacArthur é excepcional! Realmente, uma pedra no sapato dos adeptos (mesmo que sem saber) da hermenêutica dos sentimentos e dos neopetencostais (e carismáticos excessivos). Ele mostra como essa faceta gnóstica tem entrado na igreja e como ela produz relativismo e subjetivismo.
Quanto à psicologia, MacArthur muitas vezes parece fazer confusão entre psicologia e psiquiatria, (que na verdade são conflitantes, cf. o livro "O Futuro da Humanidade" CURY, Augusto). O que ele faz é uma refutação impressionante à psiquiatria, colocando-a como uma ciência inútil (baseado em citações de especialistas e autoridades da área) e fadada ao fracasso. Pode ser que os dados estejam um pouco desatualizados, mas a crítica é devastadora!
MacArthur também é muito feliz em postular os pressupostos da psicologia secular, de carater humanista. Ela, com sua visão otimista do homem, faz declarações explicitamente conflitantes com a Bíblia e o que ela diz do homem. É de destaque o fato dela considerá-lo bom, a priori, quando a Bíblia o declara mal, depravado. A psicologia secular também produziu um destrutivo prisma eufêmico para lidar com o pecado, apresentando justificativas psicológias, genéticas e afins para os mesmos e buscando solucioná-los abrindo mão do arrependimento.
MacArthur porém comete algumas falhas.
Quando MacArthur está falando sobre o Hedonismo Religioso (que consiste em a mensagem da igreja estar voltada para satisfazer os prazeres carnais dos homens_tidos por eles como 'necessidades'_ camuflando, distorcendo ou até substituindo a mensagem do evangelho) ele comete alguns exageros. Parece que ele condena qualquer tipo de manifestação cultural alternativa às suas, institucionalizadas em seus meios eclesiásticos. Danças, música, e qualquer outra manifestação cultural é tida como intríssicamente má e oposta ao cristianismo. Sabemos que as coisas não são bem assim. Se analizar-mos o livro de Atos, veremos que o cristianismo não era uma cultura em si, que quando o Evangelho atinge outra cultura ele a redime, retira o que é contrário aos preceitos bíblicos e a 'aceita' em suas reuniões comunitárias. É bem verdade, como nos mostra Paulo em 1Co 11:2ss, que há um preceito de respeitar uma maioria cultural visando não causar escânda-los, mas isso não considera outros costumes como sendo malignos, somente descontextualizados. Da maneira enérgica (típica do MacArthur) que ele coloca, dá nos a impressão de ser ele um daqueles bitolados que chamam a televisão de olho do demônio, a bola de futebol de ovo do capeta, e por aí vai....
Outra questão que merece consideração é o caso de entender o que o MacArthur quer dizer com 'nossa suficiência em Cristo'. Se perguntarmos a ele: suficiente pra quê? E ele respondê-se: Para TUDO! Ocorreria um perigoso equívoco que quero retratar no seguinte exemplo:
Um membro da igreja em que o MacArthur congrega fica doente e vem até ele. O que ele faria? Recomendaria-o ao médico ou declararia 'nossa suficiência em Cristo', oraria com ele, leria um texto bíblico e o dispensaria para sua casa? Se o 'nossa suficiência' refere-se a TUDO mesmo, correríamos o risco de escolher a segunda opção de decisões sobre o que fazer com o membro doente. Isso é uma grande ignorância! Temos de entender em quê a Bíblia se declara suficiente, entender quais as necessidades ele visa suprir. No epílogo ele diz explicitamente que 'nossa suficiência' se refere às nossas necessidades espirituais, mas só quem notou essa disparidade de pensamentos que notará essa afirmação. No resto do livro ele parece estar defendendo outro ponto de vista.