Carlos Souza 09/11/2021
"Não havia eu, só alteridade. Se havia um eu, era este, o da menina que fabulava."
Um livro rápido, leitura extremamente fluída e reflexiva.
Eliane Brum causou um impacto muito grande em mim, justamente, por suas reflexões relativas ao uso das palavras, e como através da experiência da escrita e da leitura um individuo pode se salvar de uma morte simbólica, o que na maioria dos casos, é o fator caracterizante da vida humana. Condição primordial para nossa sobrevivência.
Por muito tempo, mais muito tempo, estive preso por uma série de vivências e concepções que limitavam meu bem viver, porém, através da leitura e, consequentemente, do que ela carrega nos discursos, independentemente do gênero literário, fui sendo liberto e assumindo uma perspectiva nova, podemos dizer que cada vez mais lateral do mundo. Isso é fator valoroso para autora, então, acredito que já deve ter ficado óbvio que eu amei o livro.
Acho que o que mais me interessou foi como através do relato dos desacontecimentos da sua vida, Eliane demonstra como ela encontrou-se na ambiguidade de seu próprio ser e como isso ficou cada vez mais intenso com a intensificação do seu hábito de leitura.
"Tenho um coração andarilho, um corpo mutante, uma mente transgênenra. Sou irmã, mãe, filha, homem, [*****]mplice, bicho bicho, bicho humano, árvore, erva-daninha, pedra, rio (nota minha: bem Walt W. isso, hein?) Sou todas as cores, todos os sexos, todas as línguas. Sou palavra em palavras! [...]"
Enfim, um livro incrível, recomendo demais.