Vivihbu 24/09/2024
Mais vale ser amado ou ser temido?
Esse aqui é um clássico que, desde o início, dá para perceber que tem um propósito muito claro: ganhar o favor dos Médici, a família que dominava Florença naquela época. Maquiavel, que já tinha perdido o cargo e sofrido na pele as consequências das intrigas políticas, escreve o texto quase como uma carta de súplica, cheia de conselhos estratégicos, numa tentativa desesperada de cair nas graças de Lourenço de Médici. Ele praticamente veste o papel de conselheiro fiel, mostrando todo o seu conhecimento sobre poder com uma devoção quase palpável.
Não dá para ignorar o quanto ele puxa o saco dos Médici ao longo do livro. Maquiavel enche a narrativa com exemplos históricos que, além de servir como ilustração dos seus conselhos, são também uma maneira de enaltecer a família. Ele sugere, meio nas entrelinhas, que os Médici poderiam alcançar — e até superar — esses exemplos com a liderança certa. É aquela bajulação velada, mas estratégica, que deixa claro: "Ei, me notem, eu sou útil!"
E olha a jogada: ele dedica o livro a Lourenço de Médici, chamando a obra de “um pequeno presente”, o que soa até modesto demais vindo de um cara com toda a experiência que ele tinha. É um gesto bem calculado, uma tentativa de se posicionar como um aliado indispensável, um cara que sabe dos bastidores do poder e que, mais do que tudo, quer ser visto como um recurso valioso para quem está no comando.
Uma das partes que mais chama atenção (e que sempre gera discussões) é quando Maquiavel pergunta: "Mais vale ser amado ou ser temido?" Ele chega à conclusão de que, idealmente, um príncipe deveria ser as duas coisas, mas como isso é difícil, é muito mais seguro ser temido. Para Maquiavel, o medo é uma ferramenta mais estável que o amor, porque o amor é volátil e condicionado, enquanto o temor, se bem administrado, garante a ordem e a lealdade. Isso é o puro suco do pragmatismo maquiavélico, e também é uma baita indireta para os Médici: um governante forte e decidido é o que o povo precisa.
Maquiavel não perde a chance de exaltar os Médici, sugerindo que um líder com as qualidades deles já está no caminho certo para a glória. Essa sutileza no puxar o saco é genial, porque ao mesmo tempo que ele oferece conselhos brutais sobre poder, ele vai colocando os Médici num pedestal, como se estivesse dizendo: "Vocês já têm o que é preciso; só sigam essas dicas e dominem o mundo."
No fim das contas, **O Príncipe** é mais do que um manual de estratégia política; é um reflexo de como Maquiavel jogava o jogo da corte. Ele tentou usar sua escrita como um trampolim para sair da desgraça política e voltar ao centro do poder, e é essa combinação de pragmatismo, adulação e puro instinto de sobrevivência que faz o livro tão fascinante.