spoiler visualizarVictor222 19/05/2023
Resenha O Príncipe
Em "O Príncipe", Nicolau Maquiavel apresenta conselhos de como alcançar e preservar o poder alcançado. Uma das primeiras teorias ou conselhos, por assim dizer, dado por Maquiavel é que se o poder foi conquistado prejudicando uma ou mais pessoas, essas passarão a ter ver como inimigo e que os que te ajudaram nessa conquista, também não serão amigáveis, já que você não poderá proporcionar toda benesse que esperam, ao ponto que também seria ingrato destrata-los após o suporte dado. É citado ainda pelo autor, a importância de se fazer presente ao conquistar um ambiente onde as pessoas têm uma cultura distinta da sua. As pessoas não querem que o governante proporcione mudança de vida. Só querem viver como sempre viveram: sem muito caos sem muita paz. E para isso, pode ser qualquer ocupando a cadeira de príncipe, desde que, conforme Nicolau Maquiavel cita, não altere drasticamente a vida dos seus súditos.
Era muito comum povoar o lugar dominado com tropas, estratégia que vimos ser usada pelo governo do Rio de Janeiro mas Maquiavel lá atrás já previa a ineficiência desse ato, que segundo ele tratava-se de aquisição passiva, pois haveria um custo para manter as forças de segurança naquele lugar. A sugestão deixada é de que a "colonização" seria a melhor forma de se controlar um ambiente de cultura diversa. Talvez você se pergunte: como colonizar em pleno século XXI? Acredito eu, que induzindo o povo local a adotar sua cultura/ideologia fazendo com que verdadeiramente "comprem a ideia" de que sua presença é benéfica e até mesmo necessária para eles.
Avançando na temática, Maquiavel fala sobre o comportamento do príncipe recém empossado. Quando se realiza mudanças consideráveis em um primeiro momento, extremos podem ser atingidos, sendo possível tanto arrebatar o coração do povo como o anterior nunca fez como também gerar considerável insatisfação ao ponto de cogitarem agir para que a antiga liderança ou alguma outra com semelhanças, assuma o poder. Por isso, a conclusão que Maquiavel nos deixa é que mudanças "pesadas" devem ser feitas paulatinamente.
Um outro destacado pelo autor é que a desordem em si não é um grande problema, exceto quando ocorre sem que o responsável pelo ambiente consiga visualizá-la. Ele ressalta também, que problemas de forma geral, são fáceis de serem solucinados no início mas que tornam-se adversidades complexas caso sejam identificadas tardiamente.
Adentrando em outro tópico, Maquiavel destaca duas nações: Turquia e França. No contexto citado pelo autor, a Turquia era difícil de conquistar mas depois que esse objetivo fosse alcançado, os servidores do antigo líder, serviriam o novo príncipe com fidelidade, sem contestar a autoridade de nenhum modo, enquanto a França era fácil de conquistar, já que o poder e influência do território era dissolvido entre muitos, bastando instigar alguns à se rebelarem contra o poder vigente mas era de difícil manutenção, já que qualquer outra proposta mais interessante faria com que os detentores do poder dissolvido se rebelassem quantas vezes fosse preciso para obter maiores e melhores benefícios.
O autor aponta ainda a importância/necessidade de construir muitas bases para o futuro poderio, que seria basicamente preparar o terreno antes de ocupar. O político, antes de ser eleito, apresenta para o povo o quão atrativo é. Dá indícios de que o governo dele será interessante para aqueles que forem governados por ele. Um ponto totalmente distinto do anterior mas que entendo ser igualmente importante citar na resenha é o conselho para nunca promover alguém que você ofendeu em algum momento. Seu arrependimento por ter feito a ofensa pode ser sincero mas o ofendido não esquece e talvez ainda aguarde uma oportunidade de vingança, ainda que perca o benefício que você concedeu. Ainda sobre isso, Nicolau destaca que o uso de crueldade ou qualquer outro meio insidioso de demonstração de poder só deve ser realizado em um único grande ato ou tornar-se-á necessário fazer frequentemente, flertando com possíveis revoltas. Fazendo uma única vez, é possível ganhar o povo através das benesses que serão apresentadas logo em seguida.
É destacado também que é mais fácil manter o poder quando é conquistado com o apoio do povo humilde, pois estes tem baixa ou nenhuma exigência. Basta não haver opressão traumatizante que já há satisfação. Os pequenos não têm anseio de poder mas de não serem afligidos enquanto os grandes, quando ajudam a estabelecer alguém no poder, tendem a se ver no direito de determinar cada passo daquele que está ocupando cargo de comando, e caso este não aceite as determinações, sofrerá ameaças veladas de que o seu poder lhe será tirado em tempo breve.
Muitos de vocês conhecem o versículo que fala "se alguém te ofender com um tapa na face direita, volta-lhe também a outra" e está presente tanto no livro de Mateus como Lucas, e sem citar diretamente a Bíblia, Maquiavel destaca que as pessoas tornam-se mais agradecidas quando são agraciadas em vez de receber a punição que era esperada. Sei que é um princípio bíblico mas discordo da abordagem apresentada por Maquiavel. Esse é um ponto consideravelmente relativo, já que falta de punibilidade pode gerar permissividade para desrespeitar as regras impostas.
O autor ressalta que o príncipe deve fazer com que seus súditos vivam com a necessidade do agir dele. Gerando dependência, nunca deixarão de lhe ser fiéis, e que nos tempos de paz, deve-se dedicar a preparar para o tempo de guerra. Como diz o ditado: Guerra avisada não mata soldado. Agora destaco o assunto que mais colocou Maquiavel em evidência. Ser amado ou temido(consequentemente respeitado)?
Ele afirma que o homem(entende-se pessoas em geral) tem mais receio de ofender aquele que teme do que aquele que ama.
E eu concordo. Já vi casais que nitidamente "se amavam" serem desrespeitosos mas nunca vi alguém desrespeitar um outro ou uma outra que lhe causava temor. Mas vai de cada um decidir o que é mais importante: ser amado ou temido?
É apontado também que príncipes devem evitar realizar castigos, ou seja, deve-se atribuir a terceiros tal encargo, enquanto as benesses serão realizadas pelo próprio, sempre presente pessoalmente, para que sua imagem seja ligada à boas-novas. Repare como políticos sempre estão presentes em inaugurações de hospitais, escolas e praças mas sempre somem quando há operações policiais ou alguma fiscalização que prejudique negócios de pessoas pobres, como retiradas de quiosques ou recolhimento de produtos comercializados por ambulantes. Fazendo um contraponto, Maquiavel ressalta há momentos propícios para o príncipe assumir o papel de repressor, como quando houver oportunidade de instigar inimizades específicas, que possam ser combatidas, para que ao destruir as mesmas, aumente a sua própria glória.
O autor menciona a importância de honrar aqueles com dons bem específicos para que não venham se eximir dos seus trabalhos e os que são servos leais, para que a lealdade não seja vista como desnecessária ou imerecida.
Encaminhando para o final cabe destacar também que Maquiavel, assim como outros pensadores e até leigos citam nos dias atuais, afirma que a opinião que temos de uma pessoa é muito influenciada pelas pessoas que a cercam.
É cabível mencionar que o autor assevera sobre existir três espécies de cérebros, onde o primeiro tem suas próprias ideias; o segundo nada tem, mas consegue compreender e utilizar da ideia de terceiros; e o terceiro não tem suas próprias nem compreensão das ideias alheias. A conclusão que tiro disso é que nem todo mundo é gênio e terá ideias mirabolantes ao longo da vida, mas é "treinavel" ser esperto para saber se utilizar de boas ideias e boas pessoas ao seu lado. Elon Musk não inventou o carro elétrico mas soube se utilizar de pessoas com conhecimento específico para aprimorar essa ideia, do mesmo modo foi com o reaproveitamento dos foguetes, que hoje sim, dão ré.
Por fim, é dado destaque para a questão da lisonja, popularmente conhecida como "puxa-saco" e que a melhor forma de se resguardar dela é fazer com que as pessoas entendam que não nos ofendem quando nos dizem a verdade. Ocorre que nem todos, ou melhor, pouquíssimas pessoas querem ouvir verdades que a tirem da zona de conforto. Comentei com uma amiga, que uma classe grande de pessoas são naturalmente falsas umas com as outras, não só para não ofender mas também por desinteresse de ser verdadeira e consequentemente ser motivo da evolução da outra. Falando um português bem direto, a maioria das pessoas se dizem implicitamente "você está se ferrando e eu pouco me importo com isso. Vou bater palma para cada erro seu e você vai achar bom pois sei que não tem em interesse em ser confrontada."