Kelly Oliveira Barbosa 31/03/2020Frida Vingren viveu entre 1891 e 1940, era sueca, filha do casal luterano Jonas Strandberg e Kristina Margareta Sundelin. Seu nome foi inspirado na palavra nórdica frior, que significa “paz”. Desde muito nova se sentia inclinada a chamada missionária e logo que possível começou a preparar-se para tal. Ela fequentou cursos bíblicos, cursou enfermagem durante quase dois anos e meio – chegando a atuar como chefe da seção de enfermaria no Hospital Sabbatsbergs –, dedicando-se ainda à arte fotográfica.
Em meados de 1917, a Igreja Filadélfia em Estocolmo (uma igreja de origem batista, mas pertencente ao movimento pentecostal sueco) tinha uma escola bíblica para homens e mulheres que desejavam atuar na obra missionária. Frida não pertencia até então ao movimento pentecostal sueco, mas frequentou essa escola bíblica, quando também conheceu o missionário Gunnar Vingren que estava em um período de descanso na Suécia após cinco anos em missão no Brasil. Eles começaram a namorar e nesse mesmo ano Frida (26 anos), foi enviada em missão para o Brasil, chegando em Belém do Pará, antes mesmo do retorno de Gunnar (38 anos) para esse campo. Frida e Gunnar trocaram as alianças já em solo brasileiro, o casamento foi realizado pelo pastor Samuel Nyström.
Frida permaneceu no campo missionário brasileiro durante 16 anos. Dificuldades, sofrimentos, perdas, enfermidades e perseguições faziam parte da rotina diária dessa mulher, mas ela foi perseverante e o nome de Cristo foi glorificado através de sua vida. Frida foi uma pioneira ao lado de seu esposo, ambos fundadores da primeira Assembleia de Deus no Brasil, que era chamada de Assembleia de Deus de Belém. Eles ganharam muitas almas, trabalharam incansavelmente na obra do Senhor até o fim de suas vidas, literalmente se desgastaram no então: campo missionário brasileiro.
Sobre a personalidade de Frida dizia-se o seguinte:
Era uma mulher enérgica em tudo, tendo desprendimento em compreender e resolver todas as situações num só momento. Porém, era muito alegre e bondosa sempre.
Esposa, mãe de 6 filhos, enfermeira, missionária, escritora, poetisa, redatora, pregadora, discipuladora, comentarista pentecostal, organizadora, violonista compositora e tradutora. Na Harpa Cristã encontramos 23 hinos que levam suas iniciais. Frida influenciou muitas mulheres em sua época a servirem a Cristo e a sua Igreja, e com certeza, ainda é um exemplo para nós.
Conforme Isael de Araújo narra nessa biografia, houve um momento muito triste para o casal devido a uma forte perseguição por parte do próprio Samuel Nyström, conhecido também como um dos grandes pioneiros das Assembleias de Deus no Brasil. Após anos de atuação de Frida ao lado de Gunnar, isso é, nas ausências do esposo tanto no período em Belém do Pará como depois em São Cristovão no Rio de Janeiro, era ela juntamente com os obreiros que tomavam conta das congregações. Frida era uma evangelista, ela foi responsável pelas atividades evangelísticas em diversas áreas das cidades principalmente no Rio de Janeiro. Ela pregava nos conhecidos cultos das praças e até mesmo nas detenções, tanto para o público feminino como masculino. Ela também era responsável pela oração e visitação dos crentes. Depois de anos de intensa atuação dessa mulher, Samuel Nyström entrou em divergência com Gunnar, não concordando com a atuação da mesma na igreja. Sobre isso, em uma das cartas para Samuel, Gunnar escreveu o seguinte:
[…] Não posso deixar de apresentar a minha convicção de que o Senhor chamou e ainda está chamando homens e mulheres para o serviço do evangelho, para ganhar almas e testificar do seu amor. Sei que todos nós, juntos no Céu, nos alegraremos um dia pelas almas que ganhamos para Jesus durante a nossa vida. Eu mesmo fui salvo por uma irmã evangelista que veio visitar e realizar cultos na povoação de Björka, Smaland, Suécia, há quase trinta anos. Depois veio uma irmã dos Estados Unidos e me instruiu sobre o batismo com o Espírito Santo. Também quem orou por mim […] foram irmãs…
Todavia, a perseguição continuou até os últimos dias do casal no Brasil e de fato, Samuel retirou de Frida até mesmo a função de redatora do Jornal Mensageiro da Paz, a “imprensa” das Assembleias de Deus na época.
Frida nunca reagiu diretamente a isso, como uma pérola humilde, continuou lutando bravamente pela causa de Cristo e apenas isso.
É a segunda vez que leio essa biografia e a segunda vez que termino o último capítulo em lágrimas. Ao contrário do que poderia se imaginar, esse casal pioneiro nunca recebeu honras humanas – nem dos brasileiros nem do próprio povo sueco. Durante as quase duas décadas no Brasil eles sofreram imensas dificuldades, inclusive financeiras. E os últimos anos foram muito tristes.
Em 1932 eles enterraram no Rio de Janeiro a pequena Gunvor, sua filha caçula, com apenas três anos de idade. Gunnar que viajava muito em trabalho no evangelho para várias regiões do Brasil, nesse período já estava muito debilitado fisicamente. Por causa da sua saúde o casal decidiu voltar à Suécia. Gunnar acabou morrendo em 1933.
Frida pouco tempo depois da morte do seu esposo manifestou o desejo de retornar ao Brasil o que não lhe foi concedido pelo pastor presidente da Igreja Filadélfia de Estocolmo. Ela então começou a se preparar para ir à Portugal, onde atuaria como missionária novamente; porém caiu gravemente doente. Sendo internada em um hospital onde permaneceu durante dois anos. Foi só piorando a partir daí, sendo diagnosticada em 1939 com câncer, chegando a ser operada. Frida morreu no Hospital Karolinska, nos braços da filha Margit em 30 de setembro de 1940.
Quanto a edição da CPAD – eu li em ebook nessas duas vezes -, têm muitas fotografias e a fonte original da editora não é ruim. Entretanto, a linguagem é bem seca, como cada capítulo é dedicado há um ano especifico da vida de Frida, o livro tem muitos capítulos curtinhos. Não gostei também, das menções de datas vazias, ou seja, registro de datas sem nenhuma referência a acontecimentos propriamente, de fato há muitos buracos na narrativa. Contudo, eu recomendo muito essa biografia, pelo menos é o único registro que eu conheço sobre essa mulher. A vida de Frida Vingren é inspiradora e precisa ser conhecida.
Que Deus levante outras Fridas em nosso tempo!
[Publicada no blog: cafeebonslivros.blog
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