caiohlp 22/09/2022
Qual o custo de postergarmos nossa própria existência?
O imperativo de Buzzati nessa obra é o torpor da espera, triunfando sobre desejos e mudanças o repouso letárgico toma conta dessa canção sem heróis, proezas, sem Homeros, nem Camões. Ledo engano dos que não encontram na morosidade da fortaleza as qualidades de um romance épico único, reflexivo, profundo e perfeitamente executado. A dinâmica do livro é simples, a demora é recompensada por cada detalhe mínimo, cada peça fora de seu lugar é motivo de grande comoção e por isso o estado de alerta constante do leitor e de todos no Forte Bastiani, afinal, a atmosfera em que nos encontramos, pelo simples fato de estarmos vivos, é a de tensão e expectativa, seja para o triunfo ou o fracasso. Que soem as trombetas anunciando a façanha de um autor que levou ao chão a pressa e a celeridade em um só golpe, todavia o mérito máximo do Deserto dos Tártaros é o de, em meio a esse marasmo, provocar e incitar ação, uma vez que Dino poeticamente deixa o forte desprovido de seu guardião, mas, por meio da literatura, guarnece nossas próprias histórias e rumos contra o insensível trabalho do tempo.