Renata1004 03/12/2021
'Uma vida sem propósitos'
Uma verdade é certa: viver uma vida com escolhas que nos influam a prosseguir e frutificar, é um desejo comum. Entretanto, muitas vezes, nossos planos, mesquinhos e simplórios, nos permite viver uma vida estagnada, e de fato, em parte, assim é a vida humana, e desta forma ela é retratada, de maneira um tanto histriônica, pelo pobre personagem 'Giovanni Drogo'.
O mesmo, um jovem tenente, cheio de anseios da juventude, é designado para serivir em um forte, o qual é quase esquecido pelo tempo, e pouco lembrado pelas pessoas da cidade. O 'forte Bastiani', que muitas vezes, é visto como exílio pelos que lá habitam, também desperta um desejo familiar a todos os armíferos, que lá residem: o anseio pelo tão esperado combate aos tártaros, o desejo de glória e reconhecimento, e do fim a monotonia dos dias metódicos de suas atividades marciais. Desta forma, alguns vivem presos a esse sonho, isso inclui o próprio Giovanni Drogo.
Seu desejo de continuar no forte oscila, ele é trapaceado, e perde oportunidades de fazer uma simples escolha: a de deixar o forte e prosseguir com uma vida, possívelmente ativa e produtiva na cidade. No entanto, seu sentimento de hesitação, que o faz pensar que simplesmente deixar o forte o faria perder os tão sonhados dias gloriósos da possível guerra, o faz se resignar em sua obstinação de continuar vivendo no forte Bastiani, esperando o grande conflito contra os tártaros. Deste modo seus anseios, e aflições são passados para o leitor de forma parcimoniosa e reflexiva, narrados como um fluxo de pensamentos e sensações vivenciados por Giovanni, o qual revive suas memórias de afetos por seus camaradas da juventude, o distanciamento de laços familiares, e as ternuras e momentos de seu romance juvenil. A tudo isso, o leitor acompanha por uma escrita poética, e envolvente, dessas que nos acalenta antes de sermos deixados envolvidos pelo sono. A calma e a beleza dos dias plácidos, são exprimidos pela escrita deslubrante e suave de Dino Buzzati. Uma verdadeira obra, inspiradora e reflexiva, indispensável a qualquer leitor.
Em suma ' O deserto dos tártaros' deixa impressa duas sensações e sentimentos que resumem a vida humana, expostos pelo menos em dois versículos: " 3 Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, que faz debaixo do sol?
4 Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece.
5 Nasce o sol, e o sol se põe, e apressa-se e volta ao seu lugar de onde nasceu.
8 Todas as coisas são trabalhosas; o homem não o pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir.
9 O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol.
Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito."
Eclesiastes 3-9,14
O que de fato importa pode ser exprimido nestes versos de Paulo a Timóteo: " 7 Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. 8 Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me habituou ao Dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda."
2 Timóteo 4:7-8
Em vista do escrito ' O deserto dos tartáros', assegura-se: somos peregrinos!