O professor

O professor Cristovão Tezza




Resenhas - O professor


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Bookster Pedro Pacifico 01/03/2020

O professor, Cristóvão Tezza – Nota 8,5/10
Enquanto prepara o seu discurso de agradecimento a um prêmio acadêmico que receberá, Eliseu, o protagonista, narra a sua história de vida, passando por episódios marcantes e memoráveis. Escrito em primeira pessoa, o leitor logo percebe que Eliseu, sentindo-se solitário, busca, na verdade, encontrar um propósito em tudo o que fez ao longo dos seus mais de 70 anos. É uma obra muito agradável e nos faz pensar sobre o propósito da vida: quando envelhecermos, vamos olhar para o passado e ficar satisfeitos com o que fizemos?

site: https://www.instagram.com/book.ster
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Cristiano.Vituri 19/03/2021

Quem aqui é quadrado?
Sempre ouvimos sobre valorizar a literatura nacional, nada melhor então do dizer com todas as letras: Cristovão Tezza é genial.

Heliseu; o professor nos seus 40 anos, se envolve com sua aluna, alguns anos mais nova e que já tem uma filha. O amor, a descoberta das sensações, as conversas que tem juntos são relembradas agora pelo velho Heliseu com 70 anos.

O aspecto de volta ao passado, feito pelo personagem principal coloca a relação dele com o filho homossexual, com a esposa e amigos, uma lembrança as vezes vaga e sincera das relações humanas na nossa breve e curta historia de vida.
O autor consegue dar as informações que são necessárias para o leitor entender o quebra-cabeça, mas também deixa peças soltas, sugestões sobre acontecimentos que tornam o livro impossível de largar.
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Manuella_3 10/09/2014

Para contar a história da própria vida é preciso coragem. Revisitar amores (bem) vividos e experiências positivas, mas também voltar aos caminhos espinhosos dos insucessos e das dores adormecidas como parte do processo. Nessa reconstrução dos fatos, Cristovão Tezza nos insere no momento ímpar da vida de Heliseu: as horas que antecedem a cerimônia em sua homenagem na universidade onde lecionou por longos anos.

Heliseu é um homem de 70 anos, viúvo, introspectivo e metódico, professor de Filologia Românica. Enquanto tenta formular seu discurso de agradecimento – entre o café, banho e a saída para a celebração -, confabula com o leitor sobre o que deverá falar: sua vida profissional e pessoal, suas dificuldades e fantasmas? Sob sua ótica, em primeira pessoa, intercala presente e passado, saudade e culpa, fragmentando cenas de sua vida pessoal em ideias descontínuas: o casamento fracassado, a relação distante com o filho homossexual, os dias de paixão ao lado de Therèze.

"Permitam-me o breve calor do sentimento, senhores: Mônica, com dois ou três beijos, me devolveu a vida. O que eu fiz com elas, Mônica e a vida, é outra coisa. Chegaremos lá." (p. 125)

É este exame íntimo que recheia toda a narrativa. Num solilóquio envolvente, Heliseu vai unindo pedacinhos da memória e constatando que, ao contrário da carreira brilhante e digna de homenagem, a vida amorosa e familiar foi uma sucessão de quedas, assim como “a queda das consoantes intervocálicas” – sua obsessão como filólogo. A perda precoce da mãe e a desconfiança de que o pai tenha sido o culpado o atormentam. O sentimento de anulação como homem e pai depois do nascimento de Eduardo, o único filho que teve com Mônica. A morte acidental da esposa que levanta as suspeitas do filho contra o pai. O encontro tardio com Therèze, paixão que mescla o amor pela profissão e o envolvimento antiético do orientador com a aluna de doutorado.

“(...) por que, senhores, o professor se encantou por ela à primeira vista? Fechou os olhos, ponderando as possibilidades: um, porque eu estava disponível, o desejo da traição já vinha me tomando a alma há meses, esperando a sua presa, ou o seu momento, embora tudo não passasse de espera - nenhuma iniciativa. (...)É ela que me encontra - não tenho culpa. (...) e voltou a se concentrar em Therèze, que sorria diante dele, as pernas cruzadas, o mesmo sorriso ambíguo de quem pede desculpas mas aposta na própria graça para ser desculpada, a chantagem inocente da beleza: Desculpe, professor." (p. 134)

O autor também utiliza a narração em terceira pessoa, enquanto discorre sobre a rotina automatizada de Heliseu, amalgamando oralidade e escrita num texto que pede a atenção do leitor. Poucos diálogos em 240 páginas de um imenso monólogo interno do professor: é nessa exposição que Tezza amplia a visão dos fantasmas que revisitam Heliseu. Olhando para trás, num curso de memória instável e não linear, preenchendo os espaços que as recordações não alcançam com trechos em português arcaico (outra ideia fixa do protagonista) e fatos políticos do Brasil da década de 80 até hoje, o velho homem vai matutando um discurso de agradecimento e percebendo que busca uma redenção. Sim, agora que a vida deu uma trégua, Heliseu anseia por libertação.

"Acho que todas as pessoas do mundo deveriam receber esta medalha, independentemente do que fizeram na vida, sejamos generosos, deveriam receber medalha só pela oportunidade de, numa rápida cerimônia de acerto de contas, um pré-juízo final, rever a vida em poucas palavras, aquela essência que sempre nos falta, o tiquinho de nada que, se a gente chegasse lá, tudo resolvia com tranquilidade. (...) Deus não joga dados, joga?" (p. 71)

Não é uma leitura fácil, apesar das poucas páginas. O texto é denso, exige envolvimento e compaixão por este personagem tão humano e real. Heliseu tem a coragem de dividir com o leitor as angústias secretas que não soube elaborar. Tudo o que não foi dito ou resolvido é ruminado. Paciência, leitor. Particularmente, personagens que revelam seus segredos me encantam.

Tezza é (usando uma expressão sua) um 'pensador de miudezas'. No auge da maturidade literária do autor premiado, considero este livro uma obra magnífica!

Resenha publicada no blog Ler para Divertir:
http://www.lerparadivertir.com/2014/07/o-professor-cristovao-tezza_2.html
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Paulo Silas 20/09/2023

Escrever um romance adotando a técnica de fluxo de consciência é para poucos. O estilo exige do escritor tanto ao considerar o esforço para que não se perca o fio da meada durante a escrita quanto ao se levar em conta a atenção necessária que o leitor precisa ter para que o enredo possa ser bem acompanhado e compreendido. Em "O Professor", Cristovão Tezza demonstra a obtenção de êxito na empreitada de escrever uma obra que adota esse estilo, de modo que faz uma costura bastante alinhada na história narrada na obra que convence o leitor.

Heliseu é um professor que será homenageado no final de sua carreira na Universidade em que passou a vida lecionando e pesquisando. Ao acordar no dia da cerimônia, reflete sobre vários aspectos e passagens de sua vida que o levaram até aquele momento, recordando ativamente de sua conturbada relação com o filho, de seu casamento com a falecida esposa que morreu em uma situação no mínimo suspeita, de sua infância e a vivência com o pai, sua vida profissional-acadêmica que incluiu um caso com uma orientanda de doutorado e algumas outras passagens mundanas. No pouco tempo cronológico que abarca as ações de Heliseu desde que desperta, muito se passa de história em sua mente - a qual é compartilhada minuciosamente com o leitor.

Por mais possam ser apontados algumas questões incômodas presentes no livro (como as constantes e irritantes passagens em português arcaico), essas figuram como meros detalhes dentro de um todo que satisfaz o leitor. A obra agrada e convence. Mesmo considerando que romances de fluxo de consciência tendem a ser enfadonhos, exigindo-se muitas vezes uma atenção hercúlea para que o leitor não se perca durante a leitura, não se tem essa impressão em "O Professor", possivelmente em decorrência da sutileza do autor em ligar os pontos das diversas histórias narradas (que são assim contadas por mais de um narrador) da vida do protagonista de forma bastante profícua. É com acerto, portanto, que Cristovão Tezza escreve "O Professor", tendo-se assim uma boa literatura que merece ser lida.
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Leila de Carvalho e Gonçalves 18/07/2018

A Queda Das Consoantes Intervocálicas
Após o sucesso de "O Filho Eterno", romance catapultado para a lista de best-sellers, fato raro para um escritor aplaudido pela critica e ignorado por grande parte dos leitores, Cristóvão Tezza acaba de lançar seu mais novo livro, "O Professor".

Quem imaginou que o doce gosto da fama poderia seduzi-lo, vai se decepcionar. Ele continua irredutível, esbanjando talento e apostando alto numa literatura de qualidade com seu estilo realista, historicamente enraizado e sem exageros.

Dessa vez, o protagonista é Heliseu Mota e Silva, um eminente catedrático de Filologia Românica, que aos setenta anos, viúvo e solitário, está prestes a ser homenageado pelos colegas de universidade pela "carreira exemplar".

Durante uma manhã, enquanto ele tenta imaginar um discurso de agradecimento, sua vida é colocada a limpo. Nesse curto espaço de tempo, vem a tona desde sua infância difícil atéa problemática relação com o filho homossexual. Também fica claro o antagonismo entre um meio acadêmico medíocre e seu amor pela formação do português medieval, especialmente, pela "queda das consoantes intervocálicas", isto é, o processo que transformou "luna" em "lua".

Contudo, a narrativa vai além de apresentar uma impiedosa reflexão sobre a velhice, tece referências a nossa própria história, inclusive, a um passado recente e sequer a "presidenta" Dilma Rousseff é poupada, acusada de comandar o "pior governo brasileiro dos últimos 30 anos".

Assim como em "O Filho Eterno", o autor afirma que essa é uma obra ficcional, porém, é incontestável sua opção por uma temática coerente com a realidade que vive, ora como pai de um filho portador da Síndrome de Down ora como professor universitário, carreira que exerceu durante muitos anos.

Indubitavelmente, Tezza é um de nossos mais brilhantes escritores e na plenitude de sua maturidade, apresenta um assombroso domínio da linguagem, merecendo destaque a perícia com que oscila a narrativa em primeira e terceira pessoa sem perder o fio da meada.

Com uma salva de palmas, cinco estrelas!
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Alice 17/02/2022

Sei lá
Descobri Tezza com 14, 15 anos. No auge de minha imersão cult-bacaninha, lembro da sensação deliciosa de abandonar Os Irmãos Karamázov pra ler O fantasma da infância, outro livro de Cristovão - e um de meus preferidos da vida. Depois disso, fiquei obcecada e li vários livros do autor. Nunca tinha visto alguém escrevendo desse jeito.
Com o tempo, fui enchendo o saco e me decepcionando com a falta de impacto frequente no fim de seus livros. E também fui percebendo uma estrutura quase idêntica às diferentes histórias - o que não tira sua grandiosidade, claro. Mas a sensação foi essa: nada de novo.
O livro é riquíssimo, bem estruturado e, como indica um colega em uma das resenhas que li por aqui, cheio de informações interessantíssimas sobre a língua portuguesa.
Quem nunca leu nada dele pode adorar. Quem já leu outros livros, talvez partilhe desse tédio.
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Henrique 25/08/2022

romanção brasileiro contemporâneo
narrativa muito fluida e agradável, talvez pela proximidade com o capital cultural e os valores éticos do protagonista, talvez pela genialidade do autor. ou pelas duas coisas ao mesmo tempo. ansioso por ler mais do Tezza.
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meandros 07/09/2014

Mais do mesmo
Felizmente Cristóvão Tezza chegou ao patamar dos escritores que não precisam ser apresentados e cujas novas obras são sempre muito aguardadas. Também é verdade que ele se encontra na categoria (mais restrita) de escritores que já redigiu sua obra prima, dificilmente superada. De modo que O Professor atende à expectativa produzida pela novidade, mas fica à sombra de O Filho Eterno, como seria de se esperar.

O professor é Heliseu, catedrático de Filologia Românica que, aos 70 anos, reflete sobre a própria vida antes de uma homenagem à sua carreira na Universidade em que trabalha. Se em O Fotógrafo, Tezza limitou a tempo narrativo do romance a um dia, aqui a restrição é das poucas horas que antecedem a homenagem. O narrador é a própria consciência de Heliseu, recurso literário utilizado também em Um Erro Emocional, que alterna com propriedade e graça entre primeira e terceira pessoa e segue o padrão não linear, que as consciências costumam possuir, para relembrar seu relacionamento com colegas da universidade, com o filho e, especialmente, com as mulheres da sua vida.

O tema central do relacionamento extraconjugal de um professor universitário lembra muito Uma noite em Curitiba, mas a história contada a partir do fluxo da consciência no lugar das narrações epistolares marca o novo livro de maneira bem distinta.
Tezza utiliza seu conhecimento do mundo acadêmico do tempo em que foi professor, embora esteja longe de ser autobiográfico, para um pano de fundo bastante crível. Não é mencionado nominalmente, mas o espaço geográfico da obra é a Reitoria da UFPR e seus arredores. Assim como em O Fotógrafo e em muitas outras obras, o espaço narrativo são os arredores desta região de Curitiba e quem conhece tal realidade poderá saborear melhor a obra (o detalhe, por exemplo do painel de projeção que ficou por meses pela metade tapando o quadro negro é fato conhecidíssimo do Anfi 100, por exemplo).

O Professor é um livro típico de Tezza, com as boas características de outras obras. Sendo assim, o mais do mesmo, quando o mesmo é bom, é ótimo.
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NathAlia.Prestes 02/09/2016

O professor
Ótimo, recomendo.
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Bruna.Patti 22/04/2018

O professor
Resenha
Livro: O Professor
Autor: Cristovão Tezza
Lançamento: 2014

Revisitar nosso próprio passado pode ser uma experiência traumática. A obra O Professor, do escritor brasileiro Cristovão Tezza, autor de O Fiho Eterno, faz justamente isso. Heliseu é um professor da disciplina filologia românica da universidade e que está indo receber uma homenagem na faculdade em que leciona. O tempo cronológico do livro é a manhã em que Heliseu está se aprontado para comparecer à homenagem, porém, ao longo dessa manhã, o professor acaba rememorando sua vida inteira: o seu casamento; sua paixão por uma ex aluna; sua relação com o filho homossexual, entre outros fatos.
Ao mesmo tempo em que temos uma recapitulação da vida individual de Heliseu, tem-se no livro uma retomada da história do Brasil, desde os tempos da ditadura militar, passando por todos os governos, incluindo Lula e Dilma Roussef. A todo momento tem-se a passagem do plano individual para o coletivo e vice-versa.
O livro é muito bem escrito. Como o personagem principal é professor de filologia românica, disciplina que aborda a origem da língua, há trechos de livros com linguagem erudita, mas que são facilmente compreensíveis através do contexto. Mas a linguagem majoritária do livro carrega traços da oralidade. Pode-se perceber expressões características da língua falada no texto escrito.
A todo momento no livro o personagem questiona a velhice, onde pude fazer um paralelo com a matéria que ela lecionava na faculdade: assim como sua disciplina, que ao longo dos anos, tem sido considerada inútil, pelos discentes e docentes, visto que nenhum outro docente gostaria de pegar a matéria, ele mesmo, Heliseu, também foi envelhecendo e perdendo, aos olhos da sociedade, sua utilidade. Quando o personagem utiliza a expressão dos encontros intervocálicos, sugere que o tempo está passando, e a língua e a sociedade, assim como ele próprio, sofreram transformações.
O livro é todo narrado do ponto de vista do Heliseu. Algumas passagens da vida dele até me fizeram criar um tipo de barreira para ser conquistada pelo personagem: o fato de ter enganado sua mulher com uma ex aluna; rejeitar o filho homossexual; não cuidar do filho quando pequeno, deixando a responsabilidade para sua esposa, entre outros. Mas, refletindo após a leitura do livro, acredito que seja esse o objetivo de Tezza: mostrar que somos seres imperfeitos e contraditórios. Em nossa intimidade, temos atitudes que seriam consideradas desrespeitosas. Tezza nos desnuda, ao mesmo tempo que nos mostra toda a intimidade de Heliseu. Afinal, quem tem coragem de contar sua história, nua, crua e sem floreamentos?

LINK DO MEU BLOG ABAIXO:

site: http://abiologaqueamavalivros.blogspot.com.br/2018/04/o-professor.html
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Bruna 27/01/2020

O Professor
O Professor de Cristóvão Tezza é um livro que adquiri há algum tempo e que mesmo sem ter lido a sinopse já sabia que o queria! Um tanto pelo título do livro que já traz logo uma carga emocional, a de celebrar minha formação... A gente sabe o quanto é difícil e gratificante ser professor. Outro tanto por ser um autor nacional contemporâneo consagrado por diversos prêmios tais como ABL e Jabuti, eu sabia que não podia faltar uma obra desse nível na minha estante.
O livro conta a história de um velho professor que será homenageado pela Universidade onde leciona e se perde em devaneios do passado questionando a brevidade da vida e a passagem cruel do tempo. Heliseu é um professor universitário de 70 anos, viúvo. Tem um filho com o qual não se relaciona bem, assim como não se relacionava bem com seu pai. Admite em suas memórias que pouco se envolveu emocionalmente com a paternidade, o filho homossexual que fora morar nos Estados Unidos e que adotara uma criança afrodescendente e um imenso abismo familiar a se revisitar para escrever seus agradecimentos para a cerimônia de homenagem. O casamento aberto e a simplicidade de seu relacionamento com a esposa, um relacionamento que vive com uma aluna de doutorado marcam as memórias que mais se destacam na narrativa.
Textualmente falando, é um livro muito bem escrito. A escolha do léxico e os recursos estilísticos utilizados tornam a leitura suave e muito significativa. Alguns tratam essa obra como uma “narrativa proustiana”. Para falar a verdade, de Proust, só li No Caminho de Swann... Mas quando referenciam a Proust, acredito que seja no sentido da narrativa que se estende em diversos acontecimentos sem evidenciar a passagem do tempo. E é aí que está a essência da obra: o personagem busca em suas memórias o que há de concreto no que foi vivido e a reflexão sobre o que se fazer com o tempo que resta, sobre o certo, o errado, a consciência e as consequências. Um livro excelente para aqueles que apreciam um texto bem escrito, excelente para se exercitar a filosofia e excelente para nós, brasileiros. Uma super obra prima da literatura brasuca! Recomendadíssimo! Minha nota para esse livro não poderia ser diferente: 10!
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Ramon Diego 09/07/2016

O professor: uma aula sobre a racionalização da existência

Esta belíssima obra de Cristovão Tezza, intitulada "O professor", merece sim um texto, por isso venho ao blog, depois de algum tempo, escrever sobre esse romance do escritor curitibano.

Publicado em 2014 pela editora Record, o livro vale-se do discurso indireto livre para compor sua narrativa, apoiando-se nitidamente em memórias do narrador-personagem, evocadas em um tempo psicológico, que se confundem com fatos e ações que tanto teriam acontecido como poderiam acontecer, diante da digressão labiríntica do romance.

A narrativa conta-nos a história de Heliseu, professor de Filologia românica, que receberá uma homenagem de mérito acadêmico e que, por força desse evento, pensa em um discurso, na medida em que faz uma autoanálise de sua conturbada vida pessoal. A digressão do narrador, que inicia-se no café da manhã e dura até o momento de vestir-se para a cerimônia, resgata sua relação problemática com sua esposa e filho, além de uma paixão, Therèze, aluna franco-brasileira com a qual tivera um breve relacionamento por meio da orientação de uma tese.

Com sua postura extremamente reacionária em relação à forma de lhe dar com as pessoas, esse professor isola-se em um casulo acadêmico e tem toda sua vida baseada em uma teoria, a queda das consoantes intervocálicas. Mesmo reconhecidamente exitoso em sua tese acerca desse tema, ele vê-se extremamente solitário por saber que, quase aos 70 anos de sua vida, nada fez senão dedicar sua existência a um conhecimento teórico acerca da língua portuguesa.

“O envelhecimento nos seca, senhoras e senhores, vamos nos encolhendo, o orgulho desaba...” (p.82).

Heliseu, como muitos de nós, tenta, em vão, encontrar um significado para sua existência por meio da justificação do trabalho, de sua importância acadêmica para a produção intelectual ou para o desenvolvimento científico dos seus alunos, no entanto, seu discurso caminha na direção contrária da justificativa que ele mesmo tenta dar para a sua carreira.

“Era como se, náufrago do momento, por culpa de um esbarrão no corredor, quando em um segundo percebi que não havia mais nada a defender na minha vida pessoal, afundada numa sequência de pequenos, mas irreversíveis desastres...”. (p. 91).

O personagem deste livro, antes de tudo, dá-nos uma aula sobre a mecanização do homem por meio do ressecamento das relações e, do aprisionamento de nossa humanidade por meio de dispositivos sociais que tendem a exigir, normativamente, uma série de competências e habilidades como pré-requisitos de uma desenvolvimento social qualitativo.

Nesse livro Tezza não só atesta sua maestria para tratar eventos futuros e passados, transpostos na narrativa de forma fluida e, ao mesmo tempo interdita, como deixa-nos uma reflexão muito importante acerca do racionalismo exacerbado diante do mundo e da tentativa de significação para a vida.

“O mundo basta a si mesmo, e o poder mimético de relacionar o apito do trem numa manhã de Terça-feira com a perda de um pé de chinelo e o cheiro ruim do ralo do banheiro já é recompensa suficiente para nosso tirocínio e para dar algum sentido à vida”. (p.32).

O livro termina e nos deixa pensando sobre as significações cotidianas, o que nos é suspenso no discurso e o não-dito na convivência em meio a conceitos que, na medida em que são pensados e revisitados pelo narrador-personagem, esfacelam-se com o peso do tempo e das obrigações. Como já disse acima, uma verdadeira aula sobre o homem contemporâneo, escravo de um modus operandi tecnicista e mecanizado.


site: http://literatura-de-garagem.blogspot.com.br/2016/07/o-professor-uma-aula-sobre.html
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Inácio 14/01/2015

As lições que Tezza nos oferece
O próprio Cristovão Tezza diz duvidar que será capaz de escrever outro livro como 'O filho eterno'. Pelo menos foi o que ele falou durante uma mesa de debate lá no SESC de Garanhuns, no inverno de 2012.

Dito isso, fica combinado que 'O professor', o último livro de Tezza, não é comparável ao seu livro mais cultuado. Mesmo assim, aprende-se muito lendo o que ele escreve.

Desta vez, ele consegue a proeza de tocar uma narrativa alternando primeira e pessoa, muitas vezes no mesmo parágrafo, onde o narrador e protagonista se fundem o tempo todo.

A história é bem amarrada, um quebra-cabeça que vai sendo montado aos poucos, com tudo se encaixando e onde nada é entregue de bandeja para o leitor. Sem a pegada de livros anteriores, talvez seja o livro mais “técnico” de Tezza.
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Iuri 23/08/2021

Quando li que este livro do Cristóvao Tezza trata de um professor passando a limpo sua vida, antes de receber um prêmio acadêmico de cara pensei : “mesma coisa do filme Morangos Silvestres, do Bergman”.

Sim, pois nesta obra prima, o diretor sueco mostra um professor super idoso perdido nas suas memórias - e tropeçando em alguns eventos - durante o trajeto para para a tal homenagem na Universidade de Lund.

Nada a ver.

Se o filme tem um tom “lírico”, Tezza não doura a pílula ao nos apresentar Heliseu da Motta e Silva, professor aposentado de Filologia Românica, que durante algumas poucas horas desde o despertar, prepara-se para receber, aos 71 anos, uma homenagem por sua carreira.

Divagando sobre o que (e como) discursará, o mestre – vendo o ato como uma espécie de morte simbólica a partir do qual todos o esquecerão - vai fundo na retrospectiva da sua vida.

Neste mergulho conhecemos suas alegrias, suas infelicidades, frustrações; seus relacionamentos fracassados (amorosos e familiares) , num denso quadro de amarguras (e culpas) pontuado com muito sarcasmo e ironia.

Heliseu é patético. Sabe que seus colegas acadêmicos falam por suas costas, a certa altura se auto referencia como “reacionário”, e meio que se enxerga como uma fraude.

Como se isso não fosse pouco, seus fantasmas são porrada : pai rude e “criminoso", filho gay e distante, paixões arruinadas, isto sem falar do seu provável assassinato da esposa.

Mas o romance vai além : com passagens ótimas sobre a história recente do Brasil e mundial, também traz trechos saborosos (e alguns difíceis) sobre a construção da língua portuguesa.

Enfim.

No final de "O Professor", o que fica é um encontro raro com um autor com pleno controle da estrutura narrativa num nível de excelência assustador.

Fiquei tão empolgado que me vi lendo trechos em voz alta tamanha a fluidez e impacto.

Livraço
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alemesquitaneto 15/02/2023

Acompanhamos a história de Heliseu, professor que eu vai receber um prêmio por reconhecimento do seu trabalho e prepara um discurso de agradecimento, enquanto divaga nas memórias dos seus setenta anos.
Não consegui me conectar com a história nem com o personagem, que só me pareceu o clássico professor adúltero que já vi inúmeras vezes em outras leituras.
Ainda vou tentar ler outras coisas do autor, porque a escrita é realmente muito boa.
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