Felipe Novaes 12/05/2018O Caso Thomas Quick é um exemplo paradigmático de como não fazer uma investigação. O jornalista Hannes Rastam se engaja numa investigação sobre o suposto primeiro serial killer sueco, Thomas Quick.
Hoje sabemos, Quick passou quase 20 anos preso por dezenas de crimes que não cometeu. Por uma série de fragilidades e questões circunstanciais, Quick confessou assassinatos que não cometeu. Possivelmente, uma espécie de tentativa de ganhar a fama distorcidamente, de ganhar o mesmo prestígio de intelectualidade sombria que o recente Hannibal Lecter parecia de angariado na cultura pop com Silêncio dos Inocentes.
Mas o mais importante dessa história são os erros que ela denuncia. Um sistema jurídico totalmente comprometido, com promotor, interrogador e psicoterapeutas, todos não investigando um crime, mas sugestionando um interno psiquiátrico dopado. Quick confessava crimes em troca de remédios, era um viciado em benzodiazepínicos.
Ainda havia as hipóteses "infalseáveis". Cientistas já sabem há tempos -- e ainda mais os filósofos da ciência -- que só podemos testar hipóteses que são testáveis. É preciso de antemão saber quais cenários apoiam ma hipótese, e quais cenários específicos flagrantemente denunciam sua falsidade. Sem isso, temos um jogo de cara ou coroa, em que um jogador ganha se tirar coroa, e o outro, perde se tirar cara. Em resumo, cenários ambíguos como previsões astrológicas. Toda a condução do caso de Thomas Quick poderia ter sido feita por um astrólogo.