Raphael.Bottino 16/06/2024
Um livro que inicia com uma proposta simples, mas que evolui para questões essenciais e que se encontram em evidência hoje. É irônico que toda essa reflexão seja embasada pelo humor.
O autor começa contextualizando o leitor de sua proposta: expor a evolução do humor no contexto das sociedades que viveram sob o regime comunista e, principalmente, a sua importância. Os recursos humorísticos utilizados variam de anedotas e sátiras a imagens cartunizadas.
É evidente que o humor tem um poder enorme: é capaz de chamar a atenção, além de expor problemas de uma forma mais leve e acessível. Por conta disso, tanto na época retratada como na sociedade atual, é um recurso temido pelos seus alvos, sendo utilizado tanto por apoiadores de governos quanto por opositores.
Primeiro, me chamou a atenção a exposição do debate acerca do que é o humor sob a égide comunista e como ele poderia ser utilizado (e como não poderia). O primeiro ponto é todo aquele discurso cansativo de regime utópico de que a sociedade deveria transcender em algum momento e resignificar o conceito de humor, nos mesmos moldes de que "se uma sociedade não se encaixa em uma filosofia, deve-se mudar a sociedade e não a filosofia". O segundo ponto é pior ainda porque envolve perguntas-chave como quem pode utilizar o recurso para criticar, o que pode ser criticado e como fazê-lo.
A consequência é óbvia: censura de mãos dadas com uma justificativa pueril.
Na comparação com o nazismo e comunismo, o livro expõe diferenças no comportamento das pessoas primeiro a partir das piadas: Para o nazismo, a característica da piada era retratar o nazista como um imbecil. Já no comunismo, o foco principal da piada era o contexto de censura, com o destaque do terror em expressar alguma opinião que seja encarada como crítica ao regime. Ou seja, enquanto em um modelo incitava mais o confronto abertamente, no outro havia uma preocupação maior enraizada.
Como o livro retrata, há várias pessoas que vivenciaram um regime comunista, como o da RDA, e que até seus últimos dias se mantiveram firmes em suas crenças, apesar de experenciarem censura e escassez de produtos. Em vários casos, essas pessoas viam nas piadas formas de criticar com o objetivo de alcançar melhorias no sistema, ainda se mantendo fiéis aos conceitos. Essas pessoas "estavam preparadas para abrir mão de boas fatias de liberdade de expressão e fidelidade aos fatos em troca da criação de uma sociedade justa".
Por fim, o autor retrata que no período das derrocadas dos regimes comunistas as piadas foram deixadas de lado para dar espaço às revoltas em si.