Helder 11/04/2019
Um livro essencial para o vocacionado
Eu sou chamado? É um livro focado na sua proposta. O autor aborda da vocação e todas as suas nuances, de forma clara e concisa. O livro divide-se em três partes: 1. Definindo a chamada; 2. Diagnosticando a chamada; 3. Esperando. A primeira parte do livro trata da essência do chamado, quais as consequências para o vocacionado, a origem da chamada e as suas prioridades. A segunda parte do livro volta-se de forma mais íntima para o caráter do vocacionado e o leva a autodiagnosticar sua chamada por meio de seis perguntas pontuais e enfáticas. A terceira parte do livro tem seu foco na preparação resolvendo um paradoxo de forma prática, agir ao tempo que se espera em Deus.
No capítulo 1, Harvey trata o chamado como uma convocação e desenvolve a tese de que chamado é “deixar uma coisa em direção a outra” (p. 20). Seu foco é o ministério pastoral e busca alcançar àqueles que rumam para este caminho. Relata um pouco da sua trajetória, em que de um participante apático à igreja, sendo alcançado no ano de 1979, passou a ser acometido de várias inquietações, que mudaram o seu entendimento de igreja, e reconduziram sua vida a novos objetivos. Busca inspirar-nos por meio do apresentar das suas respostas, que encontrou na sua caminhada. Tem por objetivo principal conectar a chamada “a algo mais importante: a identidade que temos com Cristo” (cf. p. 28).
No capítulo 2, Harvey destaca que “a iniciativa daquele que chama é tudo” (p. 36). Nos ensina que o chamado não deve começar por nós, mas sim por Deus e, que a chamada à salvação precede a chamada ao ministério. Alerta-nos para o fato de que o vocacionado deve ter firmeza em sua compreensão do evangelho e que, apesar da excelência ministerial a sua identidade advém de Cristo (cf. p. 43). Nos conforta ao lembrar-nos do fato de que mesmo imperfeitos Deus nos molda e nos torna frutíferos para Ele, e enaltece que o ministério é um ascendente constante de intimidade com Cristo assim como nosso objetivo deve ser apresentar o valor do evangelho as pessoas.
No capítulo 3, Dave apresenta a relação do ministério com a igreja deixando claro que o ministério é moldado na igreja local, destaca o erro de tirar os vocacionados da igreja para formá-los para ela mesma e que, por mais que os seminários sejam necessários e excelentes, por vezes, limitam o ministério a um conjunto de habilidades. Pontua que a experiência é um requisito essencial para o vocacionado ao ministério uma vez que, seu objetivo é cuidar do povo de Deus.
No capítulo 4, ele dá início a segunda parte de seu livro (o diagnóstico da chamada), por meio da pergunta: Você é piedoso? (p. 78). Aqui traça uma análise das qualificações bíblicas em 1Tm 3 e Tt 1 deixando evidente que se tratam de qualidades gerais; se tornam evidentes àquele que é chamado através da graça de Deus, ativa neles e, que a graça de Deus os conduz a uma vida em conformidade à sua palavra. Aprofundando o conceito ele enfatiza que o homem chamado possui convicção de sua conversão, é humilde, servo e age como modelo de sua mensagem.
No capítulo 5, à luz da pergunta: Como está o seu lar? Dave traz à tona o erro, semeado por alguns, do desejo de liderar a igreja em detrimento de liderar a própria família, quando na realidade a boa liderança no lar reflete uma boa liderança ministerial, uma vez que no lar, aqueles à nossa volta conhecem intimamente a nossa vida cristã, assim tornando-a mais difícil e apta a avaliação e, no lar temos a oportunidade de exerce a nossa liderança.
No capítulo 6, ele discorre sobre uma característica inegociável para o ministério, a aptidão para o ensino, a pregação. É por meio dela que as pessoas são conduzidas a uma vida correta, o ensino é onde Cristo é apresentado. Indubitavelmente Deus conduzirá o homem chamado ao estudo intensivo, por vezes irá dispor aflições na sua vida que refletirão na sua mensagem, e lhe conduzirá a um estado de vigilância. Ele se utiliza de homens que promovam a sua palavra e a tornem clara às pessoas.
No capítulo 7, a questão é: Você pode pastorear? Dave chama de a “essência da jornada”. Pastorear traz a ideia de um trabalho mais intenso, de dedicação, observação, cuidado e zelo. O povo de Deus necessita de alguém que cuide, que esteja sempre em prontidão, que ame as pessoas, que seja a conexão entre as ovelhas e o supremo pastor e lidera eficazmente o seu rebanho.
No capítulo 8, ele nos questiona sobre o amor aos perdidos. Dave sai dos limites que restringem o pastorado e destaca que “uma chamada ao ministério conduz o homem para além das fronteiras confortáveis da comunidade da igreja” (p. 158). Afirma que o chamado não deve estar limitado à igreja, mas, o homem chamado deve buscar aqueles que não tem o evangelho.
No capítulo 9, ele termina a sequencia do diagnóstico com a pergunta: Quem concorda? Aqui, ele descreve como o homem está ligado ao seu chamado. Descrevendo basicamente três modos. A chamada interna, aquilo que se passou no seu íntimo; a preparação, que surge como um freio da anterior e extremamente importante e a confirmação externa, a avaliação por parte da igreja. Esta última, necessária não apenas por ser um princípio bíblico que foi experimento pelos personagens da bíblia como também uma validação para a chamada interna.
Por fim, no capítulo 10, único da parte três do livro, Dave discorre sobre a preparação. De forma pastoral ele orienta como lidar com o paradoxo: começar, mas esperar. Aquele que é chamado não deve ficar quieto. Dá algumas orientações sobre como agir e se portar no seu chamado. Por outro lado, afirma que “o tempo é essencial à chamada” (p. 204). Faz parte do teste de Deus para a santificação. Ambos são necessários para uma boa preparação.
Não se pode mensurar a relevância de Eu sou chamado? A clareza com que Dave trata do assunto é singular. Este deve ser o livro de cabeceira de todos àqueles que se sentem chamados para o ministério pastoral. Faço minhas as palavras de Matt Chandler em sua apresentação do livro, teria me guiado de forma muito mais confortável ao ministério se já o tivesse em mãos. A primeira parte nos centraliza na realidade do ministério, na reorientação que temos na vida quando chamados por Deus. O descrever de sua experiência torna a leitura mais íntima e pessoal, dele compartilhando dos mesmos sentimentos e dificuldades. Certamente há anseios gerais entre aqueles que são chamados. A centralidade das perguntas da segunda parte de seu livro não nos permitem divagar no assunto. Analisamos aquilo que de fato é essencial para o ministério e saímos da tendência de focar no academicismo. Todas são relevantes, contudo, a pergunta sobre amar as pessoas nos leva a contemplar a realidade principal do ministério, muitas vezes esquecidas por muitos pastores, alcançar almas. Como verdadeiro pastor chamado por Deus, Dave trata conosco sobre a nossa preparação na terceira parte. Nos dá aplicações reais e possíveis que servem como motivação para seguirmos na nossa caminhada.