Paula 01/07/2014"Um lugar não é um lugar de verdade sem uma livraria""Você descobre tudo que precisa saber sobre uma pessoa com a resposta desta pergunta: Qual é o seu livro preferido?"
Todo leitor apaixonado há de concordar que "Um lugar não é um lugar de verdade sem uma livraria". E a pequena Alice Island, nos Estados Unidos, passa a ser um lugar que todos gostaríamos de conhecer por conta de uma livraria muito especial, a única da ilha, que tem uma história bonita, como toda livraria que se preze. Assim como a livraria da 84 Charing Cross Road, já consigo imaginar as pessoas visitando Alice Island e procurando por essa pequena livraria (não sei se existe uma livraria mesmo lá como em Charing Cross, ou se tudo é ficção. Mas não quis procurar; prefiro pensar que existe sim e continua lá).
Seu dono, A.J. Fikry, decidiu fundá-la junto com sua esposa, Nicole, que após alguns anos faleceu em um trágico acidente de carro. O livreiro, que tinha um gosto literário apurado e exigente, fica desolado com a perda, tornando-se um homem triste e amargo. Quando a nova representante de uma editora aparece para visitá-lo e lhe mostrar os novos lançamentos da temporada, A.J. não a recebe muito bem, pois está profundamente infeliz com o que restou de sua vida sem a Nicole. A representante, Amelia, ainda tenta lhe falar de um dos seus livros preferidos, fazendo de tudo para que ele pelo menos o lesse, mas não consegue esse espaço.
Após algumas surpresas e confusões na vida de A.J., que envolvem uma edição rara de um dos primeiros livros de Edgar Allan Poe e uma menininha de dois anos chamada Maya, sua vida muda completamente, assim como a vida da comunidade de Alice Island, que passa a frequentar muito mais a livraria. E o que temos diante de nós é uma história sobre pessoas apaixonadas por livros, que sabem da importância da leitura para transformar o mundo ao nosso redor para melhor, e sobre amizades que surgem através dos livros.
A amizade de A.J. com o policial Lambiase, que nunca havia lido muito em sua vida porque na escola sempre lhe diziam que ele não era bom aluno, nos mostra que nem sempre a escola ajuda as pessoas a gostarem de ler, mas que felizmente há muitas pessoas dos livros espalhadas por aí, como a Margueritte de Minhas Tardes com Margueritte, que compartilham a paixão que sentem pela leitura e ajudam a espalhar pelo mundo o amor pelos livros. Porque "Às vezes os livros só nos encontram no momento certo".
A pequena Maya, que cresce na livraria de A.J. e depois se tornará uma escritora, é o exemplo mais bonito do livro de como é em casa que as crianças aprendem o gosto pela leitura, se apresentadas ao universo mágico dos livros por alguém que lhes tem amor. E é o amor de Maya que transforma a vida de A.J. e lhe dá uma nova chance de construir uma família. Sem falar que a pequena Maya, como a Paloma de A elegância do ouriço, é o tipo de filha que todo amante de livros gostaria de ter.
"Lembre-se, Maya: as coisas que nos tocam aos vinte não são necessariamente as que nos tocam aos quarenta, e vice-versa. Isso é verdade para os livros e para a vida".
Para quem procura um livro sobre o amor aos livros na mesma linha (mas não igual, veja bem) de A sociedade literária e a torta de casca de batata, este é um dos que se candidatam a ser um afago no coração. É, sem dúvida, um livro para quem gosta de ler. E uma homenagem bonita às pessoas que dedicam suas vidas trabalhando com livros, quase sempre por puro e verdadeiro amor.
"Lemos para saber que não estamos sós. Lemos porque estamos sós. Lemos e não estamos sós."
"Livrarias atraem o tipo certo de gente. Gente boa, que nem A.J. e a Amelia. E eu gosto de conversar sobre livros com pessoas que gostam de conversar sobre livros. Gosto de papel. Gosto da textura e gosto de sentir um livro no bolso. Gosto do cheiro de livro novo também."
Zevin, Gabrielle. A vida do livreiro A. J. Fikry. São Paulo: Paralela, 2014. 192 páginas. Tradução: Flávia Yacubian
site:
http://pipanaosabevoar.blogspot.com.br/2014/07/a-vida-do-livreiro-j-fikry.html