Taci.Souza 17/07/2022
Já li outras obras de Charles Dickens, incluindo o aclamado "Grandes Esperanças", mas nenhuma delas despertou em mim emoções e sentimentos de forma tão intensa quanto "Oliver Twist". Apesar de ter amado e favoritado todos os livros do autor que li até o momento, nenhum deles me deixou tão angustiada, impactada e encantada quanto esse livro perfeito , cuja leitura acabo de finalizar.
Publicado inicialmente na forma de capítulos seriados, a história ganhou sua primeira versão no formato de livro em 1837, sendo considerado o primeiro romance inglês a apresentar uma criança como protagonista. Desenvolvida com habilidade e talento, a obra reúne elementos indispensáveis para prender a atenção do leitor numa sucessão de situações marcadas por ação, suspense, mistério, emoções e reviravoltas interligadas que não permitem desviar a atenção da trama.
A escrita fluída e envolvente de Dickens, torna possível uma abordagem clara de temas sérios e pesados, sem dificultar o entendimento do leitor e destacando o envolvimento do autor com as questões sociais por ele abordadas. Sempre preocupado em expor as dificuldades enfrentadas pelos pobres e menos favorecidos de sua época, o autor é cirúrgico em suas críticas e certeiro ao usar da ironia para denunciar as falhas e a hipocrisia da alta sociedade inglesa do século XIX.
Ao dar ao leitor a oportunidade de acompanhar a trajetória de um órfão desamparado e negligenciado pelo estado, tendo que lidar, desde o seu nascimento, com a crueldade e indiferença da maioria das pessoas que encontra, sofrendo provações árduas em tão tenta idade, Dickens abre os olhos do leitor para a realidade que existe além da ficção. O leitor é convidado a direcionar seu pensamento para outros miseráveis que, fora das páginas do livro, compartilham de semelhante destino.
A narrativa torna impossível não se apaixonar por Oliver e não se emocionar com sua história. De forma natural, vamos nos conectando a ele e a tantos outros personagens, companheiros seus de misérias e adversidades. Sem surpresa, nos vemos angustiados, apreensivos, irritados, revoltados e emocionados com as situações nas quais nosso pequeno protagonista é colocado. Sofremos com suas dores e somos gratos por qualquer migalha de atenção e afeto que ele recebe ao longo da trama.
Machado de Assis defendia que "Cada obra pertence ao seu tempo", e partindo dessa afirmativa, é possível observar certos esteriótipos disseminados à época em que a obra foi escrita que já não cabem nos tempos atuais. Ao leitor compete a responsabilidade de respeitar a obra sem perpetuar tais pensamentos. Por outra perspectiva, ainda considerando as palavras de Machado, percebemos que a obra de Dickens ultrapassa as barreiras do tempo ao expor problemas sociais que ainda se perpetuam na nossa sociedade moderna, mesmo transcorridos mais de 180 anos desde a publicação do livro.
Enfim, esse livro me rendeu uma experiência literarária perfeita em todos os sentidos e, sem surpresa, se tornou um dos meus favoritos da vida!