Gualter 16/07/2023
Clássico da espiritualidade do século XX
Francis Schaeffer (1912-1984) foi um escritor e apologeta cristão influente, principalmente no contexto norte americano. A obra aqui analisada surge a partir de uma crise de fé que Schaeffer teve, de maneira que seus argumentos neste livro são, via de regra, bastante realistas. No prefácio, o autor explica a ocasião do livro:
"Durante esses anos, pesava-me a responsabilidade de representar a posição cristã histórica e a pureza da igreja visível. Aos poucos, no entanto, constatei um problema ? o problema da realidade. Ele tinha duas partes: primeiro, tive a impressão de que, para muitos daqueles que sustentavam a posição ortodoxa, faltava a realidade nas coisas que a Bíblia claramente dizia que deveriam ser o resultado do cristianismo. Segundo, gradualmente crescia em mim que minha própria realidade era menor do que deveria ser nos primeiros tempos antes de me tornar cristão. Reconheci sinceramente que eu precisava voltar e repensar toda a minha posição." (SCHAEFFER, 2021, p. 6)
O livro apresenta verdadeiras pérolas de sabedoria bíblica e é fortemente recomendável tanto por seu teor realista quando por seu cuidado pastoral e atenção as nuances que decorrem da complexidade do ensino cristão. Como acontece, ao menos aparentemente, com vários livros devocionais, o livro de Schaeffer tem alguns equívocos interpretativos. Nada que destrua o valor do livro, mas é necessário observar isto especialmente na interpretação de 1Co 10:23-24, 1Co 4:9 e Tiago 5:16. Outro ponto é que apesar de fazer críticas ao pensamento moderno, Schaeffer também parece depender de algumas premissas modernas. As vezes isto é bom, mas é necessário exercer juízo para entender onde Schaeffer acertou na interpretação bíblica e onde a influência da cultura e do pensamento de sua época distorceram sua hermenêutica.
A obra de Schareffer ao lado de outras obras de autores reformados (a exemplo de "simplesmente crente" de Michael Horton) se impõe como um clássico a ser consultado e revisitado nesta geração. Por fim, vale Deixaf algumas citações relevantes da obra:
"Se o contentamento e as ações de graças desaparecem, não estamos amando a Deus como deveríamos, e o desejo apropriado tornou-se cobiça contra Deus. Essa área interior é o primeiro ponto de perda da espiritualidade verdadeira. A exterior é sempre apenas resultado disso." (SCHAREFFER, 2021, p. 22)
"A fé pode ser ensinada? As pessoas costumam me fazer essa pergunta, e eu tenho sempre uma resposta: ?Sim, a fé pode ser ensinada, mas só por demonstração?. Não se pode ensinar fé apenas no abstrato. Precisa haver uma demonstração de fé, se a fé vai ser aprendida. Cada grupo deve operar com base na vocação individual de Deus para seus membros ? financeiramente e em outros assuntos ? mas existe uma regra absoluta: se nosso exemplo não ensina fé, ele é destrutivo. Poderá haver muitas vocações, mas não uma vocação para destruir o ensino da fé. A igreja ou outro grupo cristão que não funcionar como unidade em fé, nunca poderá ser uma escola de fé. Só há um modo de ser uma escola de fé, que é conscientemente funcionar pela fé." (SCHAREFFER, 2021, p. 216)