Marco Antonio da Silva Filho 18/06/2024
Busca e realidade do ensino bíblico
O livro "Verdadeira Espiritualidade", de Francis Schaeffer, é dividido em duas partes principais: (1) Liberdade imediata das amarras do pecado e (2) Liberdade imediata dos resultados das amarras do pecado. Como de costume, quero destacar alguns pontos da leitura que me chamaram a atenção.
Schaeffer, ao longo do livro, demonstra uma preocupação em derrubar pressupostos da teologia liberal, de modo que constantemente enfatiza a realidade histórica ou espaço-temporal dos eventos dos Evangelhos e da igreja primitiva. Um dos pontos que ele traz é a realidade da rejeição, morte e ressurreição de Cristo. Essa ordem, ele afirma, também faz parte da verdadeira espiritualidade cristã. Começamos com a rejeição e a morte para as coisas e para nosso eu. Em seguida, "ressuscitamos". Ou seja, vivemos agora em novidade de vida, como novas criaturas na presença do Pai. Diz o autor: "qual é a vocação cristã? É ser chamado de momento em momento a estar morto para todas as coisas, a fim de estar vivo para Deus neste momento".
Ainda na primeira parte, Schaeffer escreve sobre a visão bíblica consistir também do que chamamos de "sobrenatural" ou "invisível". Gostei da ilustração que ele dá das duas cadeiras. Ele nos convida a imaginar duas cadeiras a partir das quais podemos olhar o universo. Da primeira delas, o homem que senta nela consegue enxergar toda a realidade do universo, visível e invisível (sobrenatural); o cristão se senta nesta cadeira. A partir da segunda cadeira, conseguimos apenas enxergar a parcela vísível do universo, como se fosse tudo o que existisse; o descrente se senta nesta última. Se apenas uma delas fornece a visão verdadeira, quem se senta na falsa está a se iludir... E o sobrenatural não se limita ao novo nascimento ou à ressurreição do cristão, mas é uma realidade presente em sua vida aqui e agora.
Comparando com a leitura recente que fiz de "A Conspiração Divina", Schaeffer alinha-se com Dallas Willard na ênfase da realidade interior da vida com Deus. Schaeffer vai associá-la muito mais aos pensamentos, mas ao final creio estarem se referindo à mesma realidade. Em "verdadeira espiritualidade" vemos a afirmação da necessidade do poder divino para frutificar, mas também a atividade humana ("você não é uma estátua") de dever estar prontos para sermos usados por Deus. Neste ponto de comparação, Dallas enfatizará um pouco mais as disciplinas espirituais.
Na segunda parte do livro, como diz seu título, o autor fala da libertação das implicações do pecado. Uma vez libertos do pecado, vivendo uma nova vida, temos um entendimento correto de quem nós somos como seres humanos. Isso já cumpre um papel na cura pessoal/psicológica. Não tentamos ser o que não podemos ser. Isso não nos torna perfeitos nesta vida, mas proporciona uma cura substancial. Essa cura também se aplica aos nossos relacionamentos. Sabemos o que esperar de nossos relacionamentos. Temos ciência do que apenas o nosso relacionamento com Deus pode proporcionar e não procuramos tais coisas nos relacionamentos com outras pessoas. Por fim, somos lembrados de que nossos relacionamentos não devem ser mecânicos. Deus é pessoal, então nosso relacionamento com ele é de pessoa para pessoa. O mesmo ocorre com nossos semelhantes, devemos amar pessoas reais. Nossa vida cristã não se limita a assentimentos intelectuais.