@vaisetratarleitora 20/05/2024
Mais uma vez a Agatha errando a mão no romance
Dando continuidade ao meu projeto pessoal de leitura dos livros da Agatha Christie, chegamos ao seu 64º livro, publicado em 1958.
Esse livro é bem interessante, pois não temos nenhum detetive famoso dela na investigação e basicamente a investigação acontece por pura curiosidade hasuhasuashuha
Um homem aparece na porta da casa de uma família, dizendo que precisa contar pra eles algo muito importante. Essa é uma família rica, formada por pai e mãe (o dinheiro vem da mãe) e 5 filhos adotivos, pois a mulher não pode engravidar.
A noticia bombástica é que mais de dois anos antes, o filho caçula foi preso, acusado pelo assassinato da mãe por causa de dinheiro. O cara nunca tinha sido boa coisa, então não foi surpresa pra ninguém a acusação. Mas ele alegava que tinha um álibi, que no horário do crime estava em um carro, de carona com um desconhecido para uma cidade vizinha. Porém, esse carro e esse desconhecido nunca foram encontrados e nunca se apresentaram para depoimento, mesmo após ser muito veiculado na mídia. Conclusão: O jovem foi acusado e sentenciado a prisão perpétua, e deu sorte de não pegar sentença de morte, pois foi considerado com problemas psicológicos. Seis meses depois ele morre na cadeia, vítima de pneumonia.
Esse desconhecido na porta da casa da família se apresenta como a testemunha nunca encontrada. E o motivo de nunca terem localizado ele foi porquê, após dar a carona para o jovem, ele estaciona o carro e vai a um restaurante. Quando sai do restaurante e atravessa a rua, é atropelado por um caminhão, sofre uma concussão, mas inicialmente se sente bem. Ele tem uma grande viagem marcada, então pega um trem e lá desmaia. É levado para o hospital, fica internado por uns dias, desacordado e quando ele acorda, não se lembra de nada do dia em que sofreu o acidente. Os médicos dizem que é normal da concussão e que ele pode ou não, relembrar com o tempo. Ele se recupera e consegue embarcar na sua viagem. Ele é doutor em geofísica e está embarcando em uma expedição de 2 anos pela Antártida. Ele não se preocupa em ler jornais ou ficar por dentro das notícias.
Quando ele volta, se depara com um jornal falando sobre a morte do rapaz, e aquilo mexe com a sua memória. Ele pergunta para seus conhecidos e ouve a história. Procura pelas noticias da época e ao ver a foto do rapaz, ele se lembra e percebe que a prisão e morte do rapaz, são culpa dele.
A família fica completamente passada com essa notícia, pois era muito óbvio que o culpado era o rapaz, como poderia não ser? Pois, se não fosse ele, pelas circunstâncias do crime, só pode ter sido alguém de dentro da casa. E ninguém quer encarar essa alternativa.
A policia reabre o caso, mas com as pistas frias, eles não tem muita chance de encontrar o culpado. O doutor fica curioso pela reação da família á noticia que ele trouxe, pois ele esperava que o odiassem por ter condenado um inocente a morte, mas não por provar que o rapaz era inocente. Isso o deixa muito interessado e ele começa a investigar a família e descobrir a sua história.
O livro se desenrola a partir disso, e ao longo da investigação vamos descobrindo que na verdade, todo mundo ali poderia ter matado a mulher, seja por amor, seja por dinheiro, seja por ódio. Sim, é uma família muito problemática. E vamos conhecendo a família tanto pela ótica do doutor de fora, quando pelos próprios familiares por dentro.
É um desenvolvimento muito interessante, sem dúvida, mas não gostei da forma como a Agatha mostrou a adoção, o ato de adotar. De alguma forma, fica a sensação de que a mulher errou ao adotar, que por não ter gerado os filhos, ela não tinha capacidade emocional para lidar com eles como deveria ter lidado, que seria diferente se fossem filhos biológicos e etc (o que eu acho uma tremenda mentira e que ela teria agido da mesma forma). Fora as próprias crianças (que já são adultas a esse ponto) que simplesmente odeiam a madrasta pelos mais variados motivos e a Agatha coloca como se o fato de serem adotados tornasse impossível que eles sentissem amor pela mulher, assim como um filho biológico teria, o que amenizaria o ódio causado por essas situações. Enfim, sei lá, eu não gostei como ela abordou esse assunto e acho que pode ser um desserviço. Muita gente tem preconceito com a ideia da adoção de crianças, principalmente daquelas que não são mais bebês, então acho que esse tipo de história, pode ajudar a reforçar esse tipo de coisa. Sim, é uma história fictícia e etc, e no dia a dia vemos diversas noticias de filhos biológicos matando os pais o que derruba essa tese, mas mesmo assim, acho que isso ajuda a reforçar essa ideia errada de que filhos adotados são menos amorosos ou não podem ser amados e tratados da mesma forma que os biológicos, simplesmente por não serem biológicos.
Além desse ponto, temos também um desenvolvimento capenga de um romance entre o doutor e uma das filhas adotivas da família, que começa com uma ajuda na investigação do nada e termina com um noivado do nada. Fora o marido de uma das filhas que beija outra do nada, e ainda dá uma justificativa simplesmente ridícula. A verdade é que tirando o pai, todo o resto do povo ali da família precisava era de muita terapia, e muita ainda seria pouco.
Sobre o verdadeiro assassino, que ao longo da história mata mais uma pessoa e tenta matar uma terceira, eu descobri quem era na terceira pessoa, cerca de 90% do livro. Não sei dizer se descobri por habilidade minha ou pela Agatha ter deixado na cara, mas eu definitivamente não desconfiava dessa pessoa até então, pelo menos, não muito. E no fim, o motivo de tudo foi quase um anticlimax e cheguei a sentir pena. Sem dúvida, foi surpreendente o motivo e como foi articulado, mas achei triste e sei lá, não gostei muito.
Apesar de todos esse pontos, sem dúvida a história me prendeu e acho que vale a pena a leitura.