gabriel 13/06/2023
Uma das melhores Histórias da Filosofia disponíveis
Recomendo muito este livro, muito equilibrado entre "história" e "filosofia", dá o contexto histórico das ideias/escolas de pensamento, sem perder o caráter concreto delas, ou seja, as suas ideias propriamente. A maioria dos livros deste tipo ou é muito histórico ou muito filosófico, temos aqui um meio termo bastante desejável.
Corajoso, entra no mérito das várias ideias dos diversos pensadores da história, sem no entanto cair na armadilha do "opinatismo", o que vemos em desastrosas opções do gênero, como a medíocre história da filosofia de Anthony Kenny (que peca bastante neste quesito). Uma postura meio juvenil, mas infelizmente muito comum.
Sucinto, cada capítulo é muito breve e muito bem redigido, passa por todas as obras e ideias importantes, pensadores que contribuíram e debateram com eles, etc, sem ser por demais prolixo ou acadêmico. Gostoso de ler, não é um mero "compilado" de ideias, mas um texto fluido, fácil de acompanhar sem ser "banal".
Fiquei impressionado com a profundidade com que cada pensador ou escola de pensamento é abordado, o autor não foge da briga e enfrenta suas ideias sem medo, sem aquela postura amadora de querer "discordar" do autor (briga quase sempre perdida, em filosofia), mas se arriscando a oferecer explicações originais e únicas. Funciona muito bem.
Minha única crítica seria o uso exagerado de "ismos", o que talvez seja inevitável neste tipo de obra. Afinal, imensos e complexos sistemas de pensamento precisam ser resumidos. Desta maneira, Espinosa é, por exemplo, um "racionalista", seja lá o que isso signifique.
Espinosa é autor de uma das mais importantes análises dos sentimentos humanos de sua época, valorizando-os de maneira bastante original. Isso dificilmente seria considerado racionalista. Mas tradicionalmente este autor tem sido considerado um racionalista, e tá valendo.
Hume seria um cético? Leituras mais contemporâneas deste autor colocariam isso bastante em dúvida. E assim por diante. Mas este tipo de debate não é necessário neste tipo de livro e não o chega a ferir gravemente, podendo ser dispensado sem o menor problema.
As notas, de maneira bastante feliz, são todas reunidas no final do livro, evitando aquela overdose de rodapés, que interrompem a leitura. Assim elas podem se estender à vontade e isso não prejudica o seu aspecto gráfico também.
Todo o livro é bem fundamentado, tudo (ou quase tudo) está amparado em algo que o pensador escreveu ou que algum comentador escreveu, tornando a leitura bastante consistente. Algo também raro hoje em dia, em época de "achismos" e opiniões superficiais.
Também não gosto do fato de haver perguntas ao final, isso direciona a leitura que deveria ser, por natureza, mais aberta, e diria até imaginativa, empolgando muito mais o leitor. E não uma "tarefa", em sentido escolar.
O título "iniciação" passa uma ideia incorreta, é na verdade um livro mais aprofundado do que pode parecer a primeira vista.
Recomendo tanto a leitura por completo como de capítulos separadamente, que podem ser lidos de maneira independente sem o menor problema. Para quem procura um resumão prático da filosofia, mas que consiga explorar bem as suas questões (sem ser pedante e sem banalizá-las), esta é uma ótima opção.