Henggo 01/12/2023
Algo assustador (e fascinante) de ler ficção científica é ver como autores como Asimov conseguiram pensar tão à frente de seus tempos. Já no Prefácio, temos uma defesa contundente da tecnologia que conversa com os debates deste novembro de 2023 sobre os tais "limites da inteligência artificial" - uma balela tecnofoba que, na minha opinião fecal, só serve para adiar o inevitável. Mergulhar nesses contos é uma viagem tensa, inspiradora e humana.
"Círculo vicioso" (Isaac Asimov): a mente vai longe, longe, para junto de Mercúrio e além. Incrível como as Três Leis da Robótica de Asimov fornecem tantas possibilidades de tramas. Genial.
"O conflito evitável" (Isaac Asimov): achei que beira o infodumping, o excesso de informações. Parece um manual técnico. Um porre. De fato, pode ser incrível se pensado como a capacidade de criação e projeção de Asimov, porém, como conto, foi cansativo demais.
"A formiga elétrica" (Philip K. Dick): filosoficamente interessante, mas também confuso. No texto de apresentação, é dito que o conto "tem ares de 'A Metamorfose', Kafka", porém, na minha opinião fecal, não consegui tal imersão. Entendo a questão moral, todo o contexto de saber, afinal, o que é "ser um humano", mas a condução da trama não me empolgou.
"O homem bicentenário" (Isaac Asimov): como ler um texto como esse e não pensar nas discussões sobre inteligência artificial? O que é inteligência? O que é "ser humano"? Será que nosso ego, nossa arrogância de nos acharmos "a coisa mais perfeita já criada", não nos impede de enxergamos inteligência nos outros animais e mesmo em "coisas"? Que conto incrível! Que abraço!
"Derradeira esperança" (Vernor Vinge): meu Deus, o texto de apresentação é uma projeção do que temos hoje! É assustador e ao mesmo tempo fascinante. E um detalhe: usam o termo "inteligência artificial". O.o Incrível, incrível. E o texto é de 1983!!! Quanto à história... Eu fiquei meio abobado quando terminou. Imaginava como seria, mas o texto não caiu no óbvio e conseguiu me surpreender. Foi lindo como o autor moldou a passagem de tempo de modo a demonstrar nossa insignificância comparados ao universo. Belíssima experiência.
"Pedras estranhas" (Gene Wolfe): sabe a sensação de rodar, rodar e não chegar a lugar nenhum? Essa foi a minha sensação. Rodei durante uma hora para nada. Achei confuso, cansativo e com tantas informações que beira o infodumping, o excesso informativo. Comparado aos outros contos, pode até ser tão genial quanto, mas foi o mais chato e enjoativo até aqui.
"Desditados" (George Zebrowski): uma ode metafórica à humanidade e ao amor. Inspirador como o autor usa de todo o percurso da nave como analogias com o contato entre os corpos. É um conto profundo e diferenciado.