Mawkitas 29/01/2015
Dirceu de Marília
Na primeira parte do livro, Dirceu canta seu amor por Marília em liras onde elogia sua beleza. Mãos brancas como neve, peitos como pombas, pele de jasmim, lábios cor de rosas, cabelos ora cor de ouro, ora negros (Marília em momentos é morena e, em outros, loira). Todo o amor de Dirceu parece estar baseado na beleza física de Marília, uma vez que características de ordem subjetiva não são mencionadas. O romantismo de Dirceu soa superficial, como o de um "amor à primeira vista" que nunca se aprofunda. Encantado com as feições e os traços de Marília, ele não fala sobre seu temperamento, suas ideias, seu psiquismo, suas ações, enfim, ele não fala sobre nenhum aspecto de sua pessoa que não sua aparência. Pensando em casamento, filhos, cenas bucólicas e românticas, escapa à Dirceu a iniciativa de descrever a mulher amada em sua totalidade. Ele descreve, antes, o amor que sente por ela e tudo que idealiza viver ao seu lado. Em algumas liras há a sugestão de que Marília talvez não corresponda a esse amor na mesma medida e eu francamente terminei a leitura com a impressão de que Dirceu é muito mais de Marília do que Marília é de Dirceu.
A segunda parte do livro tem um tom muito mais sofrido e angustiado embora ainda muito apaixonado. Dirceu agora foi preso injustamente e escreve à sua amada falando de seus dilemas existenciais, de como acredita estar em uma situação injusta, das saudades que sente de seu grande amigo e da imensa saudades que sente dela. Pensar em Marília e na perspectiva de voltarem a se ver é o que o mantém longe do desespero completo. Essa temática soou muito mais interessante a mim, embora a primeira tenha um ritmo e musicalidade mais agradáveis.
A terceira parte traz ainda algumas liras dirigidas a Marília e também alguns sonetos. A temática é mais variada e aqui se fala de traição, ciúmes, justiça, entre outros. Adorei alguns dos sonetos, que parecem ter muito mais energia do que encontrei na maioria das liras.
Um livro recomendado para quem gosta da poesia desse período. Se não gostam do arcadismo ou da temática, poderão achar a leitura cansativa, a temática chata e o texto em geral pouco acessível devido às muitas referências à mitologia grega. Para quem aprecia esse tipo de poesia, é uma boa leitura. Pessoalmente, achei cansativo e não gostei da abordagem, embora três ou quatro liras tenham me impressionado a ponto de achá-las geniais.