@guiiisa 22/06/2024
Quem mandou se envolver na inconfidência?
Sendo sincero, não tenho QI o suficiente para ler poesias, pois é necessária uma bagagem histórica cultural dependendo do local de origem do livro, e, se eu nem sabia como funcionava um impedimento no futebol até semana passada (que tipo de brasileiro eu sou...), como poderia ler um dos livros "pesos pesados" da literatura nacional de séculos atrás? Entretanto, como um bom vestibulando que vive se humilhando, consegui desenrolar a leitura, mas não sinto que tenha essa bagagem histórica cultural o suficiente a ponto de tecer uma crítica sobre as poesias, então, nesta resenha, me atentei mais aos estudos deste, reunindo minhas anotações acerca das vídeo-aulas do professor Henrique Landim, Miriam Bevilacqua do canal Biblion, e Paulo Cesar Lima do canal Se Liga, e alguns pontos do livro aos quais acho que tenha afinidade para apontar.
Para começar, é necessário entender a época ao qual a obra se origina para entender as intenções de seu texto, nisso, somos levados ao Arcadismo brasileiro ou pré-romantismo (é importante o cuidado para não confundir com o Arcadismo europeu), se trata de um período literário de transição, depois do Barroco e antes do Romantismo, ou seja, de vida pequena e poucos autores. A palavra "Arcadismo" vem de "Arcádia", eram regiões habitadas por pastores que gostavam de poesia e música na antiga Grécia, portanto, esse movimento brasileiro foi fortemente influenciado pela cultura greco-romana misturado com o Iluminismo na Europa, aos quais, num total, trazia características como o Bucolismo (simples vida no campo e ênfase nessas paisagens), harmonia e equilíbrio entre o Homem e Natureza, pseudônimos pastoris e suas musas, linguagem simples e objetiva, por fim, principalmente, o gênero lírico (explorar temas da alma e sentimentos). Tendo esse vômito de informações em mente e como já dito, se trata de um período bastante recluso, com todos os seus escritores se encontrando em Vila Rica, atual Ouro Preto em Mina Gerais, naquela época colonial, capital econômica do Brasil pelo ciclo do ouro, é curioso frisar que maioria (ou todos) desses autores do movimento se reuniam na "Arcádia Ultramarina", uma sociedade literária (ou como você e eu conhecemos: clube do livro) visando trocarem suas experiências e escritas. Por fim, existem cinco lemas (em latim, mais uma referência a cultura greco-romana) que definem os temas desse movimento: Carpe Diem ou "Aproveite o dia" (cada segundo e momento da vida é precioso), Fugere Urbem ou "Fugir da cidade" (procura do campo e vida simples sem corrupção), Inutilia Truncat ou "Cortar o desnecessário" (tornar uma escrita direta e objetiva), Aurea Mediocritas ou "Viver em equilíbrio" (uma vida perfeita sem excesso de riqueza ou pobreza) e Locus Amoenus ou "Lugar ameno" (paisagem rural berço da tranquilidade e amor).
Agora, finalmente sobre o livro, não desejo mais fazer uma Wikipédia e serei breve. Em Marilia de Dirceu, Tomás Antônio Gonzaga resgata a tradição greco-romana e respeita o significado de Arcádia, chamando seus poemas de liras (só ele chama assim) e adotando o pseudônimo do personagem triste e melancólico pastor Dirceu, criado pelo poeta lírico e satírico romano Horácio. Nisso, a Marilia também seria o pseudônimo de Maria Doroteia Joaquina de Seixas, amada de Tomás, ou, de acordo minhas SÉRIAS pesquisas, Marília seria somente uma musa (na mitologia grega, nove filhas de Zeus, exemplo de amor, beleza física e dedicação), ou, uma referência de um conta da mesma mitologia, sobre uma ninfa (Espíritos naturais femininos, ligados a um local ou objeto particular da natureza) chamada Amarílis, que se apaixonou por Alteo, que daria origem a flor Marilia, ou, uma alusão a santíssima trindade. Tanto faz como tanto fez, o livro Marilia de Dirceu possui 80 poema e 13 sonetos, sem títulos e apenas numerados, sendo divido em três partes, onde a primeira parte possui verdadeiras declarações de amor, com momentos de pastoreio do gado entre o casal Dirceu e Marília com 33 poemas publicados em 1792, a segunda parte seria produzida durante a prisão de Gonzaga pós-Inconfidência com 38 poemas, publicados em 1999 (sim, Tomás foi um Inconfidente mineiro, não com muita vontade), ainda são declarações de amor, mas sombrias, uma vez que se trata da separação e solidão de Tomás com, até então, sua amada Maria Doroteia, por fim, a terceira parte seria finalizada somente em 1812 com 9 poemas e 13 sonetos, uma vez que Tomás foi condenado ao exílio em Moçambique e nunca mais podendo ver seu amor, a finalização dessa obra possui clima pesado, onde eu já não entendia mais nada da leitura.
Em conclusão, Marilia de Dirceu possui riquíssimo valor nacional pela época e modo de escrita, mas não para mim, uma vez que não fosse pelos vestibulares, eu o não leria, nem adianta chorar, pois a própria editora admite esse fato ao colocar as questões dos maiores vestibulares ao final do livro para treino, e sobre a editora, em uma nota de rodapé essa toma a liberdade ambiciosa de afirmar que Tiradentes, que aparentemente teve contato com Tomás durante a Inconfidência, era um indivíduo abastado, grande entusiasta dessa inconfidência e até envolvido com a Maçonaria, falácias que escutei aqui e ali, mas meus professores e livros de história sempre afirmaram o contrário, portanto, acho uma nota perigosa, mas, no fim, o que me importa mesmo é o feriado de Tiradentes. Se trata de uma obra a qual achei linda as declarações de amor, realmente me identificava, dava até vontade de escrever poemas a minha amada, mas, ao mesmo tempo que o poeta se perdia na solidão de sua prisão e exílio, eu perdia meu interesse. Talvez eu leia quando tiver maior bagagem literária.