spoiler visualizarGabid0 01/09/2024
Top livros profundos disfarçado de ficção infanto-juvenil
Um dos livros mais lindos que eu já li. Pra todas as crianças que cresceram rápido demais, boa sorte se identificando e compreendendo todos os personagens. Desde o jeito que ele é escrito até a sutileza que cada personagem tem, os diários de bluebell é uma escrita fantástica. Fala sobre luto, amor, família, traumas, superação, felicidade, e tudo na perspectiva de uma menina de treze anos, que ao mesmo tempo que demonstra uma maturidade enorme por tudo que ela já passou, é claramente só uma criança. Todos seus irmãos também são retratados desse jeito.
A história é contada por Bluebell, a protagonista, que vive em uma família com 3 irmãos (eram 4, mas sua irmã gêmea falecera alguns anos antes do início do livro), pais que só os encontram em alguns finais de semana (sempre trabalhando e se ocupando para fugir dos problemas), a avó (nem aparece tanto, mas gosto dela), e o au pair recém contratado Zoran. O livro é uma mistura do diário escrito de Blue e das transcrições feitas por elas das cenas que grava sobre seus dias em sua câmera, um modelo que torna a narrativa extremamente interessante (as cenas são tão bem descritas e envolventes que são facilmente imagináveis, a leitura corre naturalmente, e é quase como se estivessemos assistindo às cenas).
A Bluebell tem várias questões internas, ela se sente mal por estar isolada, mesmo que ela mesma se esforce pra isso acontecer. Ela percebe muitos detalhes, tem reflexões super profundas, mas ela só é uma garotinha tentando reaprender a viver no cenário de caos que é sua família. Outra personagem incrível é a Flora, sua irmã mais velha. Flora parece uma típica adolescente mimada e desnecessariamente cruel, mas junto com a narradora, o leitor aprende a amar a Flora. Ela é extremamente sensível, e sempre se protege antes mesmo de alguma ameaça aparecer.
Boa parte do livro fala sobre Joss, o vizinho adolescente de Blue que a ajuda a resolver alguns problemas na escola, e é por quem ela se apaixona. Bluebell finalmente se sente enxergada, até que ele começa a namorar Flora. Não é o ponto principal do livro, e não torna o livro sobre uma menina de coração partido. O Joss é importante porque ajudou Bluebell a falar sobre seus sentimentos, voltar a conversar com seus colegas, o que muda completamente o comportamento dela.
O meu ponto favorito sobre o livro é a frustração que Bluebell sente por pensar que só ela se lembra e sente falta da irmã falecida. Três anos depois de sua morte, todos os familiares estão conversando, cantando e rindo, e Blue se irrita porque não consegue participar daquilo quando tudo que pensa é Íris. Ela discute com sua mãe, que diz que dói tanto nela quanto dói na garotinha, mas mais importante, a mãe diz que a felicidade é uma escolha, e ela estava escolhendo ser feliz. Quando eu li o livro pela primeira vez, deixei essa frase passar batido. Agradeço por entender de verdade é agora. Todos passamos por dificuldades. Às vezes reais, e às vezes as que estão na nossa própria cabeça. Mas, no geral, temos a escolha de sermos felizes. Não por completo, não todo o tempo, mas de se esforçar de verdade a parar de buscar conforto na tristeza, e tentar se permitir o prazer da felicidade.