Francine 31/10/2014Este é um livro diferente de qualquer outro que você tenha lido.Quando a parceira C. A. Saltoris revelou as primeiras notícias sobre "A história esquecida da hospedaria na estrada", interessei-me por lê-lo. Então, quando essa querida autora me ofereceu, é claro que abracei a chance de conhecer seu livro antes do lançamento oficial!
De modo geral, o ponto alto deste livro é seu enredo completamente anti-clichê. Para começar, o narrador da história é Chronos, o deus do tempo. Apesar da narrativa ser em primeira pessoa, Chronos é onipresente e nos permite saber sobre cada personagem, oferecendo maior dinamismo à história. O mais legal, contudo, é que ele não apenas narra... Ele também é um personagem ativo e apaixonante, um dos meus favoritos. Chronos, que encarnou no corpo de um garoto de 16 anos, ganhou meu coração com a sabedoria de um deus e os sentimentos de um humano!
Em "A história esquecida da hospedaria na estrada", Chronos nos apresenta Mathew Roberts, um homem de 35 anos que vive uma rotina tão previsível quanto sem graça. Seus sentimentos por sua namorada são mornos e seu maior sonho nunca foi realizado, até que ele o acabou abandonando. Essa foi a razão para que Mathew Roberts encontrasse a hospedaria S'mentry Manor, que ficava entre o mundo humano e o submundo, e só poderia ser vista por aqueles que tivessem um sonho morto.
O problema de encontrar essa hospedaria, meus caros, é que sua memória começa a ficar confusa assim que seus olhos pousam sobre ela. De repente, Mathew já não tinha certeza de nada além de sua reserva para vários dias. Ele desceu do seu carro com os olhos fixos na bela jovem que o aguardava na porta, com um fino vestido e uma vela em mãos. Antes mesmo de chegar até ela, Mathew esqueceu que estava a caminho do hospital para visitar seu irmão depois de um grave acidente, e nada atraía mais a sua atenção do que a enigmática hospedeira. O que Mathew não sabia é que sua chegada abalaria tudo em ambos os mundos.
Chronos é um narrador formidável! Enquanto ele nos apresenta Mathew Roberts e a vida que levava antes de chegar a S'mentry Manor, conhecemos todos aqueles que estão na hospedaria e o que, de fato, nela acontecia. É assim que acompanhamos Linumê, a fada da morte que desempenha uma importante função para o submundo, mas que diante de Mathew Roberts hesitou pela primeira vez em sua morte-vida... Sua hesitação provocou um desequilíbrio tão grande que, confesso, não era possível saber qual seria o desfecho da autora! Eu via que o final do livro se aproximava, mas não conseguia prever como tudo poderia se resolver (ou se resolveria). Senti-me ansiosa por Linumê, por Chronos, por Mathew e por todos os demais personagens envolvidos... E o final, ah, foi maravilhoso!
"A história esquecida da hospedaria na estrada" reúne criaturas que me arrepiam só de pensar em sua existência (rs). Eu me senti no País das Maravilhas, mas no clima dos contos do Cavaleiro sem cabeça ou do Drácula. Como você se sentiria se adentrasse numa hospedaria que parece levá-lo para outro século, com inquilinos aparentemente presos cada um num período histórico diferente? Como se sentiria se a sua intuição o alertasse de que algo está errado, mas as suas lembranças revelassem o contrário? E se os relógios não funcionassem? Ou o clima parecesse diferente daquele que lembrava, como se estivesse no inverno, mas quase poderia jurar ser verão? E se sua hospedeira, gentil e maravilhosa, causasse calafrios como se fosse algo temível? Este é um livro diferente de qualquer outro que você tenha lido. S'mentry Manor é o tipo de lugar apavorante que, pouco a pouco, vamos entendendo e (quase) desejando que exista.
Linumê, como fada da morte, não era bondosa. Sua natureza era cruel, mas igualmente honesta. Ela poderia feri-lo em palavras tanto quanto com um dos seus beijos venenosos! Eu me vi adorando-a, mas acredito que não me sentiria assim se não fosse pela narrativa de Chronos... E aqui apresento outro dos pontos altos do livro: O narrador onipresente e participante era, também, apaixonado por Linumê. O deus do tempo amava a fada da morte o suficiente para aceitar viver no corpo de um adolescente de 16 anos [não é spoiler, por ser uma informação apresentada logo nas primeiras páginas].
Como aspecto frágil da obra apresento o que, por fim, provou-se também outra qualidade: Chronos salta do passado para o presente e, entre um e outro, faz comentários sobre o futuro. A narrativa trata o tempo como quem dele fosse, realmente, seu deus. Isso me frustrou um pouco no começo, quando Mathew chegou à hospedaria e fiquei ansiosa para saber o que aconteceria. Mas, então, Chronos passou a narrar como a hospedaria surgiu e quais eram os demais personagens... Eu queria "avançar" para o presente outra vez (haha). Logo depois, no entanto, adorei esse ir e vir. Acho que foi um jeito muito criativo da autora ao estruturar sua obra. Eu me apeguei tanto ao Chronos como personagem-narrador que acompanhei seu ritmo de modo fluído, sem mais esforço.
Minha leitura foi em versão digital não-oficial, então, nada posso falar sobre a diagramação. Mas a capa combina com a história e estou ansiosa para ter a versão impressa em mãos! Gostei tanto de tu-do o que a autora trouxe de novo para a literatura que, com certeza, este se tornou um dos meus livros favoritos! C. A. Saltoris está de parabéns pelos cenários que criou, pela personalidade e história individual de cada personagem e pela narrativa apaixonante Ela também está de parabéns por ter desenvolvido uma história que nos faz pensar sobre nossos próprios sonhos mortos e o quão pequenos podem ser nossos problemas quando os observamos sob perspectivas diferentes. "A história esquecida da hospedaria na estrada", de um jeito sombrio, resgata valores e redefine prioridades. Com certeza, é um livro recomendadíssimo!
Não posso deixar de acrescentar: Eu adorei a personagem Amélia... Quis abraçá-la e beber chocolate quente ao lado dela. Uma das senhoras mais nobres, sensatas e queridas sobre quem já li. Ela foi minha segunda personagem favorita neste livro.
"Amélia tinha um talento natural de colorir beleza onde não havia. Amélia era uma filha da guerra." (p. 30)
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