Gustavo.Querino 04/04/2022
O que nos falta é unidade
Este é o primeiro contato que tenho com Francis Schaeffer e percebo em suas obras respostas claras para grandes problemas que observamos na vida espiritual. Em poucas palavras, a questão que o Schaeffer procura responder é a falta de unidade no mundo moderno/pós-moderno.
"O homem já morreu. Deus já morreu. A vida se tornou uma existência sem
significado, e o homem não passa de uma roda na engrenagem. A única via
de escape passa por um mundo fantástico de experiências, drogas, absurdos,
pornografia, uma “experiência final” elusiva, e de loucura."
Francis começa sua explicação destes fenômenos com o começo do mundo moderno, mais especificamente com a distinção do St. Tomás de Aquino entre "Natureza" e "Graça". A Natureza representa o nível inferior (a criação, as coisas terrenas, o visível e o que fazem a natureza e o homem) e a "Graça" representa o nível superior (Deus criador, o invisível e sua influência na terra, o metafísico e a alma humana). Com o advento de Tomás de Aquino temos o verdadeiro surto da renascença humanista. Sua concepção de natureza e graça não envolvia descontinuidade dos dois princípios pois ele sustentava um conceito de unidade que as correlacionava. Entretanto, foi ele que abriu a possibilidade de um andar inferior autônomo ao considerar que a vontade humana estava caída, mas não o intelecto. Desta forma o
intelecto humano se tornou autônomo, sendo o homem um ser independente. Tão logo se estabelece esse reino autônomo verifica-se que o elemento inferior começa a corroer o superior.
Quanto a este problema de unidade a Reforma protestante deu uma resposta diferente do renascentismo humanista, é a partir da noção bíblica de uma queda total do homem, sua vontade e intelecto, que conseguimos uma unidade. Somente Deus é autônomo. Só podemos encontrar verdadeira unidade em sua revelação para nós, a Bíblia.
Outro ponto que o Schaeffer levanta é a linha do desespero. Na modernidade secular é muito comentado que deus está morto, não necessariamente um deus da espiritualidade autônoma, mas o Deus das religiões judaico-cristãs. Ao questionarmos pessoas comuns nas ruas, no trabalho ou nas universidades sobre se ela acredita em Deus, é comum sua resposta ser: "Sim, mas não o Deus das religiões, creio em um deus de amor que está em todos nós". O homem moderno matou o transcendental, sem saber que ele é algo que o homem necessita e não pode viver o absurdo da existência (como Camus nos apresenta) sem valores superiores. Ao se confrontar com o absurdo ele não pode continuar na incredulidade de um andar inferior sem um andar superior, assim, ele passa de uma agir racional para um irracional: dar um salto de desespero para o andar superior, não importando o seu conteúdo.
Por isso é tão comum as pessoas afirmarem que acreditam em deus, mas um deus sem rosto, que na verdade se adequa ao seu próprio rosto, sua própria imagem e desejos. O misticismo cresce nesta época de saltos irracionais para o andar superior, as igrejas que estão abandonando a Bíblia como revelação e palavra de Deus estão crescendo em força e número (principalmente com as filhas da teologia liberal como a teologia queer, feminista, negra, existencial).
A falta de unidade nos andares inferior e superior é tão grande que é comum conhecermos pessoas que na universidade se diz materialista e fora dela se diz espirita (algo epistemologicamente incompatível), estando o materialismo em seu andar inferior e o espiritismo no superior sem se tocar.
Este é um livro bem fino, todavia não deixa de ser muito denso. Ele nos permite encontrar respostas para um mundo pós-moderno em que as pessoas procuram dar um salto irracional no desespero de tocar o divino, mas sem a verdadeira resposta para seus problemas, o Deus da Bíblia.