spoiler visualizarVictor222 10/04/2023
Resenha A Morte da Razão de Francis Schaeffer
O livro morte da razão realiza uma abordagem sobre filosofia secular correlacionando com o que poderia considerar como filosofia cristã e aquilo que conhecemos por história antiga, conduzindo leitor à fazer reflexões sobre o homem e o curso do pensamento da humanidade sem Deus e o desafio que cada geração de cristãos tem de enfrentar, sobretudo no que se refere à compreensão da forma de pensar da geração à qual pertence. O autor já adianta que não houve nenhum avanço na resolução do ?mal estar? do homem com relação ao mundo, para consigo mesmo e para com a eternidade, com as pessoas ainda buscando sobreviver psicologicamente, valorizando a emoção e a ?experiência?, às custas de um assassinato intelectual em virtude de uma preguiça ou inaptidão mental, onde as coisas não precisam ter significado, sendo suficiente apresentar função estética ou emocional. Justamente essa forma não pensada de pensar e agir é essa ?morte da razão? que serve como título do livro.
É apresentado a teoria que constantemente é repetida ao longo do livro, que é a existência de dois níveis, chamado de andar superior e andar inferior. Em um primeiro momento, se atribui ao andar superior Deus, suas virtudes e criações celestiais enquanto o andar inferior é ocupado pelas criações terrenas. O autor acrescenta que quando o homem subestima a natureza, ofende a criação e o criador. Não obstante à isso, ele nos apresenta fatos históricos que evidenciam o momento que a mesma natureza antes subestimada, começa a receber um foco que a coloca em um patamar acima até mesmo daquele que a criou. Francis Schaeffer enfatiza que a busca por separar natureza da graça, ou ainda colocá-la em um patamar superior gerou danos terríveis a moral do indivíduo e das respectivas coletividades as quais faz parte, além do aumento da miséria e do sofrimento ao homem que segue tendências ignorando a verdade das Escrituras que estão explicitamente reveladas.
Em um momento posterior mas não tão distante fala-se em liberdade autônoma que é a defesa do indivíduo no centro do universo. Por ser a figura mais importante, não há limite que não possa ser ultrapassado pelo homem. A razão "morre". O que vale é o "como posso saciar meus desejos?" E não há um sequer que conteste a ultrapassagem dos limites do homem, que haviam sido estabelecidos nos anos anteriores.
Enquanto hoje discute-se ciência e cristianismo como opositores que não dialogam, o autor nos leva à ver que o cristianismo e seus textos bíblicos serviram como impulso para ciência moderna, já que as Escrituras apresentam uma perspectiva de existência de universo que a ciência entendeu como sendo um campo a ser explorado. Apesar de ter sido "startado" por uma religião, a ciência moderna não tarda em excluir o andar superior e tudo aquilo que era atribuído à ele. Passa a se falar somente de um único patamar formado por NATUREZA - FÍSICA - CIÊNCIAS SOCIAIS E PSICOLOGIA - DETERMINISMO e excluindo não somente Deus mas também outros pontos-chave que viam sendo elevados ao patamar superior como liberdade, amor, sentido, moral e o próprio homem. O homem moderno não crer na existência de Deus e consequentemente não entende possuir limites mas ao mesmo tempo se depara com a atribuição de ser uma peça de um sistema. O homem, com medo de ser limitado por Deus, escolhe negar-lhe a existência mas acaba sendo restringido ao exercício do seu papel de pequena peça de um conjunto de bilhões de peças.
Especificando a questão do homem enquanto peça de um sistema, é entendido por tal teoria que somos todos meras máquinas sem nenhuma autonomia dentro de um sistema. A propagação de tal linha de pensamento gerou uma grande problemática no convívio social pois os indivíduos começaram a agir como se não tivessem controle sobre seus atos e as piores versões de cada um passam a vir a tona como se fosse um comportamento natural e inevitável. Não contente com esse papel que lhe é atribuído, o homem moderno adentra na busca por alcançar o andar superior que em um recente momento, havia sido excluido das discussões. Ignorando isso, os indivíduos buscam aquilo que foge do lógico e do racional e está posicionado no "alto". Para alguns, o ser divino na figura de Deus, para outros inspiração para arte, seja na forma escrita(literatura), visual(teatro) ou oral(música).
Um dos meus pontos preferidos é a exposição do autor acerca de Picasso: em análise das pinturas do famoso artista, é evidenciado que o momento que ele estava apaixonado era o ápice de sua inspiração e através das pinturas, realizar saltos irracionais se desprendendo por completo daquilo anteriormente chamado de andar inferior enquanto Salvador Dali sofre o mesmo "efeito" de salto desmedido, impensado e não planejado quando tem um encontro com o misticismo. Por motivos diversos, todos nós acabamos tendo a esperança de um "gatilho" que nos faça saltar. Repare que a sociedade atual está cada mais ávida por chegar ao limite buscando experiências que a façam acessar o irracional e ilógico.
O autor cita que aquilo que começou como material pornográfico em formato de literatura despretensiosa, hoje domina o áudio e visual, apresentando-se como a última e melhor tentativa disponível para o homem realizar saltos irracionais que o permitam alcançar o almejado andar superior. Se na Renascença, a literatura escrita pelos poetas líricos tratava do amor como um assunto que dominava o andar superior, o humanismo racionalista faz com que o homem eleve a pornografia à esse patamar. Cabe explicar que o pensamento racionalista é aquele que defende que o homem começa absoluta e totalmente de si mesmo.
Retomando a questão da análise do ponto do andar superior e andar inferior nos setores da sociedade, o autor se debruça em observar o que ocorre no cinema e logo de início aponta que nomes como Truman Capote expõe o resultado das suas direções/gravações que são caracterizadas por "comprovar" que o homem está morto enquanto não se propõe a atingir o andar elevado. Em relação à provocação de espanto no público, o autor afirma que o que mais obteve êxito foram as produções cinematográficas que elevam o homem ao andar superior. Se entendi bem, cabe como exemplo o sucesso dos filmes "John Wick", "Os Vingadores", "Velozes e Furiosos" onde há personagens com poderes e acessos sobre-humanos, como o John Wick que não morre jamais, ou o Dom Toretto voando com carro por prédios e afins.
É exposto que temos por cenário atual um andar inferior que tem racionalidade e lógica e toda ocorrência atual faz com que se tenha o entendimento de que o não tem significado, não tem propósito, não tem sentido e não há como o convívio entre homens gere algo positivo, enquanto o andar superior "abriga" justamente o oposto: tudo que não se enquadra em racional e lógico está no andar superior e gera otimismo nas relações interpessoais. São as "melhorias inesperadas" que mesmo não podendo ser "medidas", podem acontecer.
Têm-se ainda, bem presente na atualidade a teoria do absurdo que é caracterizada por saltos sem qualquer raiz ou ponto de partida, visando não só alcançar andar superior e o que têm nele mas uma entrega descabida à busca por prazer e consequentemente exploração de formas ilimitadas para alcançá-lo, seja por meio de experiências sexuais totalmente distintas ao que é o comum ou pela "moderna mania" das drogas.
Por fim, é exposto como a teologia atual tem negado a fé, desconectando do Deus único, infinito e pessoal da revelação bíblica e da Reforma, aceitando a dicotomia e não aceitando verificações com cunho de trazer comprovação para relatos e textos religiosos. É como se colocassem a mao no ouvido para não ouvir, antes mesmo de analisar o que está ouvindo. Como se fosse prejudicial o suficiente, isso nos influenciou, ainda que nossa forma de falar sobre Cristo para terceiros, já que nosso evangelismo é ineficiente em expor a figura real do Salvador por transmitir aos outros uma visão deturpada de alguém que nem conhecemos como deveríamos. Falamos mais de um deus dos nossos corações do que o Deus das Escrituras. Como o próprio autor diz "há certos fatos imutáveis e verdadeiros que mudarmos não estaremos comunicando o Cristianismo".