Toni 16/11/2020
Diálogos com José Saramago [1998]
Carlos Reis (Açores, 1950-)
Porto Editora, 2015, 184 p.
José Saramago transitou por quase todos os gêneros: crônica, teatro, romance, conto, novela, poesia, diário, ensaio, discurso, blog, memória. Não admira, portanto, que no universo prolífico de sua obra haja espaço, ainda, para a publicação recorrente de “diálogos”, valiosas conversas entre o escritor e críticos literários, jornalistas, realizadores—não posso afirmar quantas são ao todo, mas conto aqui em casa 5 delas: “O amor possível” (Juan Arías), “José e Pilar” (Miguel Gonçalves Mendes), “Uma longa viagem com José Saramago” (João Céu e Silva), “As palavras não se afogam ao atravessar o Atlântico” (Carlos Vaz Marques) e este volume organizado por Carlos Reis (autoridade portuguesa em estudos saramaguianos). Nele, leitoras e leitores terão a oportunidade de “testemunhar” 7 diálogos temáticos nos quais Saramago conversa sobre sua formação literária e as condições do escritor, sobre História e gêneros literários, sobre a narrativa e o romance, sobre a linguagem da literatura, temas, valores e sentidos de sua obra.
Em se tratando de um escritor que sempre defendeu colocar-se em suas obras, ainda que isso não deva ser interpretado do ponto de vista biográfico, mas ético (“o autor está no livro todo, o autor é todo o livro, mesmo quando o livro não consiga ser todo o autor”), a leitura de diálogos talvez pareça supérflua. Adianto que nada estaria mais longe da verdade. Conhecer este lado do Saramago é uma oportunidade de perceber a extrema coerência de sua postura como cidadão, pessoa pública e escritor, e de como essas três esferas estão imbricadas em uma forma literária (seu estilo peculiar) que não poderia se manifestar de outra maneira. Há tanto para se aprender sobre Saramago aqui quanto em suas ficções. Um homem das letras que “mantém fixo o olhar no seu tempo, para nele perceber não as luzes, mas o escuro” (*), crítico ferrenho desta humanidade que não merece o nome que carrega—mesquinha, misógina e cruel—na qual chafurdam os porcos chauvinistas. #naoexisteestuproculposo
(*) G. Agamben.