Felipe.Goularte 13/06/2020
A História do Mundo como Sempre foi Contada: do Ponto de Vista Europeu
Desde pequeno sempre tive especial interesse em história, interesse esse que gerou conhecimento, o qual por sua vez mostrou seu valor mais tarde, já que permite através da leitura do passado, um melhor entendimento do que acontece no presente. Porém, como um habitante do "terceiro mundo", começa a incomodar certo padrão presente em obras de história, de trazer sempre o ponto de vista ocidental das coisas (importante lembrar que apesar de nossa posição geográfica como país, recebemos o mesmo tratamento que países orientais, de exoticismo e do "outro", por parte das nações do oeste europeu e dos EUA). De certa forma, nossa história e anseios como nação, acabam sendo esquecidos pela visão ocidental, a visão divulgada e conhecida por todos. E esse livro não é exceção a essa regra.
Comecei a leitura muito despreocupadamente e me surpreendi muito de início. Isso porque o livro traz com consideráveis detalhes, acontecimentos de povos pouco usuais de vermos em obras do gênero, como reinos antigos da áfrica, os impérios do leste asiático e até as mais antigas civilizações das quais se tem conhecimento nas Américas. O livro se propõe a narrar fatos históricos de forma neutra, basicamente falando "aconteceu isso, aquilo e por fim culminou em tal coisa", sem muita emoção ou opinião. Porém aos poucos, a autora começa a colocar suaves julgamentos de moral pessoal, como com os impérios mongóis, ou com os rituais dos povos Astecas, esses últimos, segundo a autora, acabaram por horrorizar tanto os exploradores espanhóis, que eles resolveram começar uma guerra. Tal característica de julgar povos não europeus acaba por desaparecer logo em seguida, no entanto sendo substituída por outra tão nociva quanto, a de reforçar a imagem da missão europeia de levar civilidade ao resto do mundo. Entendo a ideia de trazer os acontecimentos de forma neutra (se é que é possível ser 100% neutro), porém ao relatar períodos históricos como os da escravidão, ou do genocídio de povos africanos durante as conquistas europeias, de forma a parecer que foi tudo normal, apaga o horror que foi para inúmeras vidas humanas, trazendo consequências negativas até hoje para um continente inteiro, e para toda a raça negra que tenta sobreviver em nações de "maioria" branca. É como narrar os horrores dos campos de concentração nazista como se contasse um conto de fadas, normalizando o desumano, e abrindo brechas para que acontecimento semelhantes se repitam.
Tal característica passa a ser constante depois que se começa a narrar as grandes navegações, com partes revoltantes como a justificativa dada ao fim da escravidão de povos negros por parte de europeus, que se deu, segundo a autora, porque religiosos ingleses se compadeceram do sofrimento alheio. Passou a ser revoltante demais para continuar a leitura, a qual larguei faltando ainda uns 30%, e apesar de entender quem consegue relevar tais partes e apreciar o livro, acredito que já estamos saturados da visão dos povos dominantes nos maiores produtos de mídia da atualidade, e não vejo valor em um livro que propaga ainda mais essa visão.