spoiler visualizarMarry.Grace 12/01/2024
Uma incrível surrealista história da América Latina
Antes de tudo... Que livro incrível, eu sinceramente não sei por qual motivo não tinha lido antes.
Não vou mentir que foi uma leitura fácil por que em alguns momentos precisei de um tempo para conseguir fluir na leitura.
A forma de escrita do autor é ótima pra mim, uma linguagem não muito rebuscada. Volta e meia tem um trocadilho ou referência a língua dele mas tudo bem explicado nas notas.
Agora sobre a história em si, o Gabriel García Márquez escreveu sobre uma realidade de forma tão caricata que para muitas pessoas do mundo possa ser exagero, mas pessoas latinas irão compreender muito bem as vivências de Macondo desde sua formação até o fim do livro. Acho que aí que está a mágica da escrita do Márquez, Macondo é descrita tão perto da realidade de qualquer vila ou pequena cidade que muita gente pode se identificar nas vivências da população. Além disso os conflitos e guerras, a eterna briga entre liberais e conservadores onde muitos lutavam sem nem saber por qual interesse estavam morrendo é como contar a história política da América Latina na visão de um morador e não de um historiador.
O surrealismo no livro é contado de uma forma tão natural que parecia que estava escutando alguma lenda do interior que nasci, e ele não é quebrado mas sim se adequando ao passar dos anos.
Com certeza é algo que muita gente já notou (não cheguei a ler muitas críticas sobre), mas pra mim o título é claramente uma alusão a vida de todos os Buendía, que apesar de vivos e vivendo a maioria na casa principal todos morreram na companhia da sua própria solidão. Seja como o Coronel que nunca soube amar ninguém e procurava na guerra formas de se manter vivo, ou como Amaranta que nunca se permitiu sair da solidão, ou Rebeca que nunca conheceu os pais biológicos e mesmo na família adotiva foi abandonada a certo ponto.
O modo como a casa dos Buendía também acompanhou cada etapa das gerações, no início humilde, depois da volta de Úrsula a casa se tornou maior e próspera, animada e com vida, nos tempos de guerra e luto era alvo de medo por parte de alguns cidadões, nos tempos de Fernanda era sombria, e já no fim dos Buendías a casa também chegava ao seu fim, entregue ao mato, rachaduras e formigas.
Alguns trechos do livro me impactaram demais e nem sei por que, como quando Amaranta saiu correndo a noite com duas espingardas velhas para tentar ajudar Arcádio, o próprio fuzilamento de Arcádio. A morte de Aureliano José e do coronel que atirou nele na frente do cinema. O encontro de José Arcádio Buendía com o Galeão, ou o lamaçal de sangue que ficava no quintal de Petra após tantos animais mortos.
Por fim eu nunca esperaria o final que teve, perdi o fôlego e precisei pensar por uns minutos em como toda a história nos levou aquele ponto. Eu consegui sentir a angústia do abandono dos últimos dias do vilarejo, era agoniante ler essa parte final.
Senti revolta com o trem de mortos que ia para o mar e como essas pessoas apenas foram apagadas da história. Um livro que consegue evocar tantas emoções sem dúvidas é uma obra prima.
Enfim, Gabriel García Márquez realmente foi digno de um Nobel por esse livro, e já estou ansiosa para ler outro trabalho dele.
100 anos de solidão é cinco estrelas e até mais.