Ana Seerig 24/07/2023
A personalidade de Bowie através de suas canções
Esse livro está na minha estante desde janeiro de 2016, mas só agora, em meados de 2023, me aventurei a lê-lo. Precisava de uma boa companhia. Esse livro não é uma biografia para ser devorada de uma vez só, mas sim uma coletânea de histórias. Todas as canções de Bowie até 1980 estão aqui (o apêndice traz as anteriores a 1969) e cada uma precisa ser ouvida - obrigada, YouTube, pela ajuda.
Peter Dogget apresenta um Bowie que fazia qualquer coisa pela fama e que soube construir sua imagem - como um bom marketeiro. A biografia do artista é citada apenas quando necessária, para explicar composições e gravações. Amigos e casos são citados, mas a meu ver o mais íntimo que Dogget expôs foi o quanto a morte do pai de Bowie o abalou - um detalhe sensível que escapa aos sensacionalistas que gostam de focar em sua vida sexual.
Cada álbum merece um texto próprio, assim como algumas perspectivas gerais da obra de Bowie. Detalhes como sotaques interpretados pelo músico só poderiam ser trazidos por um estudioso inglês e esse cuidado me fez admirar ainda mais a obra. As melodias também são didaticamente explicadas para que leigos (como eu) sejam capaz de entender. Ao final, o quebra-cabeça Bowie parece ir se montando: como sua personalidade o tornou o camaleão que influenciou gerações e impediu que fosse rotulado como ultrapassado.
O bairrismo de Doggett, contudo, o impede de se aprofundar na representatividade que Bowie tem até hoje para Berlim - aliás, o livro é de 2011, dois anos depois o músico sairia dos ostracismo com uma composição sobre a capital alemã, talvez isso tivesse feito Doggett repensar a importância do período alemão na carreira de Bowie. Mas o tempo foi favorável aos leitores de "O homem que vendeu o mundo": quando o escreveu, o autor mencionou que apenas trechos de certas canções eram conhecidos - hoje todas estão disponíveis, por completo, na internet.
É uma obra para quem gosta de música, mas especialmente para quem admira David Bowie: ela me contou mais sobre a personalidade do artista e do indivíduo do que outras biografias que li, provavelmente porque suas canções são as melhores testemunhas de quem foi David Jones e de como ele via o mundo que o cercava.