Mari Siqueira 08/01/2015Simplesmente genial!O ditado 'Por trás de um grande homem sempre há uma grande mulher' se aplica perfeitamente à vida de Stephen Hawking. O cientista genial que sempre viveu preso num corpo enfraquecido pela doença, encontrou em sua primeira esposa, Jane Hawking, sua força. Uma história magnífica que apresenta uma perspectiva menos científica, mas não menos brilhante da vida de Stephen. Com amor, fé e determinação, uma mulher mudou a vida de seu marido.
Ao iniciar a leitura, como qualquer leigo que infelizmente confia na mídia para se informar, eu tinha uma opinião errônea sobre a primeira esposa de Stephen Hawking. Sempre achei que Jane fosse uma mulher egoísta e mesquinha que abandonou o marido quando ele mais precisava dela. Acontece que muitas das notícias vinculadas na mídia não eram verdade, mas sim especulação. Toda a história dessa família nada convencional foi esclarecida nesse relato sincero e intimista da primeira e única Sra. Hawking. Jane fez o possível para salvar seu casamento, mas as consequências acabaram deteriorando tudo. Nem sempre o amor é o bastante.
De início, é preciso entender que Jane se interessou por Stephen ciente de sua condição. A ELA (a doença degenerativa que acomete o físico) foi diagnosticada no jovem ainda em sua adolescência. Tímido, porém inteligente, Stephen chamou atenção de Jane e os dois começaram a namorar. Tudo é narrado detalhadamente e o leitor se vê na década de 60. Entre a magia de um primeiro amor e as ideias brilhantes do garoto, esse relacionamento evolui aos poucos e mesmo com um diagnostico cruel e nada otimista, Jane aceita se casar com Stephen.
A autora diz que um casamento é integrado basicamente por duas pessoas, mas que no seu caso, sempre houve uma terceira integrante: a doença de Stephen. Conviver com os efeitos da degeneração foi em especial complicado para a esposa dedicada, que sempre cuidou do marido, assim como de seus filhos. Após um tempo, a genialidade do físico envolve uma quarta integrante à esse casamento já tão complexo: a física. As fórmulas e equações sempre atingiram um lugar que a esposa nunca conseguiu atingir em Hawking.
Jane recebe cada vez menos atenção do marido, que vai aos poucos ficando famoso e conquistando seu lugar no mundo. Diversas vezes, percebemos como ela se sente deslocada, inútil, ignorante e desprezada. A genialidade de Stephen a ofusca e ela abre mão de seus sonhos para se dedicar à família e à carreira do marido. Jane Hawking é uma verdadeira guerreira. Ela lutou pelos direitos dos deficientes físicos, por melhores condições, por suas crenças e por sua família. Muitas vezes injustiçada, ela se sentia exausta pela rotina profissional e doméstica, além do dever para com o marido, que foi elevado a outro patamar, quando ela se viu responsável por cada atividade de Stephen.
O ponto mais interessante da narrativa são os embates clássicos entre os dois que ocorreram durante todo o casamento dos Hawking: a fé. Ateu declarado, Deus não tem espaço nas teorias de Stephen. Enquanto isso, Jane se apega à fé para aguentar tudo o que lhe foi designado. Com o tempo essas e outras diferenças vão interferindo no relacionamento do casal e o resultado é o que nós conhecemos hoje em dia.
Eu julgava Jane antes de conhecer sua história e depois de ler as memórias de sua vida, vi que eu não podia estar mais errada. Uma mulher admirável, que fez da sua vida um exemplo e ainda assim foi hostilizada, humilhada e abandonada. Amor, superação e dedicação. Jane é tão ou mais fascinante que Stephen Hawking e ela enfrentou tanta coisa quanto ele. A vida não é difícil apenas para os confinados à doença, mas também para os que os amam.
"(...) Eu estava convencida que tinha de haver mais no céu e na terra do que havia na frua e impessoal filosofia de Stephen. Embora nessa fase eu me sentisse completamente enfeitiçada, atraída por seus olhos claros cinza-azulados e pelo largo sorriso de covinhas, resisti a seu ateísmo. Por instinto, eu sabia que não poderia me permitir sucumbir a essa influência negativa; que não poderia oferecer consolo nem conforto e esperança para a condição humana. O que o ateísmo faria seria destruir a nós dois. Eu precisava agarrar-me a qualquer fio de esperança que pudesse encontrar e manter a fé suficiente por nós dois se houvesse algo de bom em nossa triste condição." (p. 42)
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