eagorarenato 23/03/2020
No começo é bem nostálgico perceber que as histórias infantis que conhecemos hoje se desdobram desses contos populares transcritos no século XVIII. Depois é um sentimento misto. Perceber que os valores quase não fogem a regra, a coragem masculina, a inveja das bruxas, a fragilidade e beleza das donzelas. Olhar daqui de 2019 esses textos requer um esforço pra que a criticidade não torne em desencanto. É precioso ver as raras moças que despontam por sua astúcia (mesmo que o troféu seja casar com o príncipe, há nelas certa independência). Mas a rivalidade entre mulheres predomina, assim como o tráfico dos corpos femininos objetificados (em muitas versões os homens escolhem qual princesa querem, buscam sempre a mais moça). Desnaturalizados esses pontos pós-modernos, a leitura segue. O número três aparece muito (3 meninas, 3 irmãos, 3 tarefas), é místico e ao mesmo tempo estratégia de narrativa. As histórias mais legais foram as sem grandes eventos ou lições de moral. Apenas causos, repetidos tantas vezes por esses ancestrais que se solidificaram na história.